Antes de avançarmos no assunto em pauta, se faz necessária uma breve caracterização do que seria um governo progressista.
Emir Sader em seu Blog escreveu um ótimo texto com o título:
“Quem é progressista e quem é de direita”,
onde numa das suas caracterizações sobre esse universo afirma que progressistas são
os governos, forças políticas e instituições que colocam o acento fundamental
na expansão dos mercados internos de consumo popular, na extensão e
fortalecimento das políticas que garantem os direitos sociais da população, que
elevam continuamente o poder aquisitivo dos salários e os empregos formais, ao
invés da ênfase nos ajustes fiscais, impostos pelo FMI, pelo Banco Mundial e
pela OMC e aceitos pelos governos de direita. Entre os países da América
Latina com essa caracterização, se encontra o Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia,
Uruguai e Equador, se contrapondo ao Chile, México, Panamá, Costa Rica e
Colômbia.
Avançando
um pouco mais no assunto e no sentido de diferenciar das políticas neoliberais,
se faz necessário entender que num país capitalista, porém com um governo
progressista, se faz necessário um Estado forte, para que não fique refém do
mercado, principalmente ao se buscar um equilíbrio de renda e oportunidades profissionais.
Enquanto o mercado seleciona e elitiza as vagas, o Estado tem como função
socializar as oportunidades, principalmente de formação e capacitação,
colocando a população mais necessitada em pé de igualdade com as demais pessoas
que tiveram condições diferenciadas de vida e consequentemente de estudos.
Em se pensando em Gestão Pública, aqui no Brasil o Ministério
do Planejamento, através da Gespública criou o que denomina de um Modelo de
Excelência em Gestão Pública. A iniciativa gerou como produto o
Plano de Melhoria
de Gestão, construído a partir da auto avaliação
dos sete critérios
que compõem o
Modelo: 1) liderança;
2) estratégia e planos; 3) cidadãos e sociedade; 4) informação e conhecimento; 5) pessoas;
6) processos e 7) resultados.
O objetivo dessa iniciativa é oferecer aos
gestores e à população elementos que ajudem na avaliação de um governo e se
diferenciem de uma gestão apenas de resultados, onde o principal elemento seja
um “choque de gestão”. Talvez quem precise de “choque” sejam alguns gestores e
não a gestão. Essa necessita de um Plano de Ação com: planejamento, diagnósticos
e principalmente metas construídas através de um processo participativo com os
setores organizados da sociedade.
Ao ministrar o Curso Plano de Governo e Ações
para Governar, pela Fundação Perseu Abramo para mais de 100 prefeituras e
trabalhar a ideia de um governo com alguns elementos, ao qual denominei de
marcas: governo ético, integrado, transparente e participativo, surgiu à
necessidade de caracterizar, a partir de alguns elementos tecnopolíticos, o que
seria um governo ideal dentro dessas marcas.
Foi com essa preocupação que resolvi arriscar
em desenvolver um quadro comparativo de governos que chamei de: conservadores,
em transição e progressista sustentado pelas quatro marcas descritas no
parágrafo anterior.
Trata-se apenas de alguns referenciais,
embasados numa breve pesquisa muita conversa com os gestores e composto por
21 Elementos Tecnopolíticos, que imagino representarem a alma de uma gestão.
Quadro de Elementos Tecnopolíticos
Comparativo a Partir do Modelo de Gestão
Elementos Tecnopolíticos
|
Gestão Conservadora
|
Gestão em Transição
|
Gestão Ética, Integrada, Transparente e Participava
|
1. Transição de Governo
|
Não existe
|
Existe de forma
precária
|
A partir de um plano de
ação, com Decreto e Lei Municipal
|
2. Plano de Governo
|
Não existe ou é desenvolvido
por uma consultoria
|
Desenvolvido por um
Grupo de Apoio Político e apresentado à sociedade sem participação
|
Desenvolvido por um
Grupo de Trabalho a partir de reuniões participativas
|
3. Alianças, Composição de Governo e Apoio na
Câmara
|
Modo Mercantilista – Apoio
por troca de favores e cargos
|
Apoio por troca de
cargos, porém com Grupo de Trabalho
|
Modo Programático com
um Conselho Político de Governo
|
4. Captação
de Recursos
|
Lobista
|
Lobista com uma pessoa
responsável pelo Siconv
|
Desenvolvimento de
Projetos através de Grupo de Trabalho
|
5. Conselhos
Municipais
|
Consultivos
|
Alguns Deliberativos
|
Deliberativos
|
6. Estatuto
da Cidade
|
Existência ignorada
|
Admite-se a existência,
porém não e aplicado
|
Pouquíssimos municípios
tem o Estatuto como elemento principal da Política Urbana aplica-o na
totalidade
|
7. Plano
Diretor
|
Não existe ou foi elaborado
por uma consultoria e somente com Audiências Públicas
|
Elaborado por consultoria
e apresentado em Audiência Pública
|
Elaborado de forma
participativa por regiões e com uma coordenação
|
8. Integração
de Governo
|
Não existe
|
Apenas alguns setores
trabalham integrados por necessidade
|
Integrado através de
diversos instrumentos: Grupo Gestor, Fóruns e outros
|
9. Relacionamento
com servidores
|
Ruim
|
Ruim
|
Bom e alguns servidores
são convidados a compor o governo, através de Funções Gratificadas
|
10. Plano de Carreira para Servidores
|
Não existe
|
Não existe ou foi elaborado
sem participação
|
Elaboração a partir de
reuniões com os diversos setores e com um Grupo de Trabalho
|
11. Escola de Governo ou Gestão para formação
dos servidores e técnicos
|
Não existe
|
Existe como
intermediação com consultorias
|
Responsável pela
formação e capacitação com o envolvimento dos funcionários
|
12. Orçamento ou PPA participativos
|
Não existem
|
Existem apenas nos
primeiros quatro anos de governo
|
Existem como
ferramentas essenciais de gestão com um conselho deliberativo
|
13. Portal
da Transparência Lei Complementar 131/2009
|
Não existe ou apenas
com informações financeiras
|
Existe apenas com
informações financeiras e de funcionários
|
Existe com integração
com a Lei de Acesso à Informação e com o Diário Oficial Eletrônico
|
14. Lei de Acesso à Informação
Lei 12527/2011 |
Não implantada
|
Em implantação ainda de
forma precária
|
Implantação plena com
os SICs, Ouvidorias e Integração do Sistema
|
15. Lei Anticorrupção
Lei 12846/2013 |
Totalmente desconhecida
|
Totalmente desconhecida
|
Conhecida, porém não
implantada
|
16. Conferências / Fóruns / Encontros
|
Apenas os eventos
obrigatórios
|
São realizados, porém
sem continuidade
|
Integração dos eventos
com os Conselhos e tarefas como desenvolvimento dos Planos Municipais
|
17. Desenvolvimento
Econômico e Social
|
Não existe como
política, sem integração, porém com alguns cursos de formação técnica
|
Integração com alguns
setores produtivos e de formação técnica e profissional
|
Integração através de
Conselho de Desenvolvimento Econômico, Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e
Plano Municipal
|
18. Economia
Solidária
|
Desconhecida, desrespeitada
ou ignorada
|
Admite-se a existência,
os integrantes são recebidos, porém sem nenhuma política pública específica
|
Existência de Fórum, Plano
Municipal, Conselho e Fundo Municipal e Políticas específicas alinhadas com a
SENAES
|
19.
Assistência Social
|
Assistencialista
|
Assistencialista com
algumas ações assistenciais
|
Trabalho assistencial
de promoção com diversos convênios e formação profissional
|
20. Organização
da Sociedade
|
Sem apoio
|
Convive-se com os
setores organizados, porém não são chamados para a gestão
|
Respeito total e
participação na gestão através de Fóruns e apoio à organização
|
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