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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Ontem sonhei com uma sociedade se reinventando de baixo para cima...

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A frase do título vem de uma das respostas de Paulo Freire no livro “Essa escola chamada vida”. Uma entrevista feita pelo Jornalista Ricardo Kotscho com Frei Beto e Paulo Freire. Uma verdadeira obra prima. Algo tão belo que ao ler o livro nos remete a uma reflexão permanente sobre a vida e sobre qual é a nossa missão em vida e o quanto estamos comprometidos com ela.

A utopia de mudar essa sociedade de desiguais, de injustiças e violência, para uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, acaba se tornando uma missão de vida para quem dela se nutre e vai preenchendo nosso imaginário e nos fazendo mirar no futuro em busca de quem estará conosco. Diria até que serve em muitas situações como a razão das nossas existências.

Dizem os sábios que quando desejamos muito que algo aconteça e ela se encontra muito distante de acontecer, precisamos mirar no horizonte ao por do sol para buscarmos sinais e conversarmos com nosso imaginário na esperança de sonharmos ao dormir, como se estivéssemos em pleno estado do desejo. Enquanto isso os poetas sugerem que a cada “não” formemos um verso, para quando o “sim” chegar à poesia esteja pronta, ou quem sabe uma canção que fale de amor pela vida e transborde para quem caminha conosco.

Já os pensadores comprometidos com uma causa nos faz um alerta. Os sonhos, diferentes das fantasias que apenas nos levam ao abstrato e muitas vezes ao nada, requerem de nós compromissos para que possam ter a possibilidade de acontecerem. Além disso, como alimentar os sonhos se não for através das nossas utopias? Uma utopia não pode ser confundida com uma fantasia, pois nasce da esperança armazenada em nossos corações e nos vai levando vida afora até a última mensagem da nossa história de vida.  

Ao alimentar meus sonhos diários, desviando das minhas contradições, ontem à noite sonhei com uma nova sociedade. Uma sociedade onde o ódio não existia, nem pessoas perdidas por não saber quem são e o que vieram fazer em vida. Uma sociedade de iguais, alimentada por atos de amor, que é algo que está fora de moda. Fazer qualquer coisa sem amor, nem todo bicho faz, mas fazer com e por amor, só as pessoas especiais se dão a esse luxo.

Que sociedade é essa que tanto almejamos? Como pensar nela se uma grande parte da sociedade nem sabe o que estamos falando e outra parte luta contra o que pensamos? O que fazer em plenas trevas?  

Antes de qualquer pensamento ou ação abstrata, vale lembrar que mudar a sociedade, antes mesmo de ser um ato político e às vezes um ato revolucionário, é um ato de amor. Amor pela causa. Amor por quem não enxerga o outro lado da rua e amor pelo que ainda vai nascer. É um ato pela vida de milhares de pessoas e um pacto com a liberdade. Mudar a sociedade só nos importa se tivermos condições de pautar todo processo através da solidariedade, que na prática é a maior das ideologias.

Ser de esquerda e ser revolucionário ou revolucionária, não é somente fazer parte de um partido ou um grupo de esquerda e sim, se revolucionar, amar de forma radical, agir com sinceridade para mundo e criar condições das pessoas acreditarem que a verdadeira revolução começa no nosso universo, transborda para nossos meios e invade a sociedade com o que plantamos, regamos, ajudamos a crescer e virou parte dos sonhos que um dia acreditamos ser.

Revolucionar-se é antes de tudo ter a coragem de fazer uma catarse interior e por para fora tudo que é banal e assumir que somente a confiança, a verdade, a solidariedade, a lealdade e o amor, nos fazem gente de verdade.

Antonio Lopes Cordeiro(Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

O que é ISSO que governa o país?

Depois de um tempo em plenos rios da vida senti necessidade de voltar e escrever uma breve análise do comportamento do povo frente à dura realidade do país. Algo que para quem luta por uma causa há anos, seria inimaginável pensar numa situação como essa. Quem dirá vivê-la. Um estado crítico de calamidade humana nunca vista, além dos ataques a setores específicos da sociedade e o país em namoro com o fascismo. Um verdadeiro filme de terror.

É evidente que o tal “mito” não foi eleito por acaso. Ele é uma criação do próprio sistema em contraposição aos governos do PT e também nasceu e cresceu como o “novo”, num processo de ocupação do vazio deixado pela esquerda brasileira nos últimos anos, que parte achava que tinha conquistado o poder e com isso deixou um enorme vazio para que a direita o usasse da forma que quisesse, até mesmo criando a ultradireita ou a extrema direita, que não havia de forma organizada até então, como existe hoje de forma explícita.   

A vitória dessa trupe que Desgoverna o país nos mostra de forma clara o que é a alienação, as artimanhas do sistema e o quanto o povo sem clareza política está entregue aos manipuladores de plantão que transformam, seja através do comercio da fé ou do ódio, quem os seguem, num bando de ovelhinhas adestradas a seguir seus pseudos líderes ladeira abaixo.

Além disso, nos mostra também o quanto estamos longe dos nossos sonhos, a enorme tarefa que temos pela frente, o precário nível de politização do povo brasileiro, além do processo de desvalorização humana, onde o ter se sobrepõe ao ser. A meritocracia e a teologia da prosperidade dão o tom, em detrimento ao direito de igualdade de oportunidades e a teologia da libertação. Algo tão seletivo que acaba excluindo a extrema maioria da população.

Um povo que não reage e muito menos age para proteger seus direitos está entregue ao abate. Continuam fazendo cara de paisagem como se nada de grave tivesse acontecendo. Enquanto isso a geração do “pato amarelo” continua a festejar o próprio enterro, mas o importante para esse setor é que derrotaram o PT. Estão sofrendo com prazer.

Porque isso ocorre? Cadê a indignação? O que estão esperando que aconteça? A criação de um campo de extermínio em massa?

Falta muito pouco para isso. Destruíram mais de cem anos de história e de conquistas. Precarizaram as políticas públicas e delapidaram os direitos trabalhistas, de aposentadoria e os direitos sociais. Queimaram livros. Demonizaram Paulo Freire, perseguiram professores e funcionários públicos, mataram índios e invadiram suas terras e nada acontece. Em nome das religiões ufanistas, do falso pudor e do mentiroso combate à corrupção estão levando o país à falência, à subserviência aos EUA e ao fundo do poço.

O que fazer diante de tudo isso? As eleições municipais próximas é um caminho? Até certo ponto sim, pois tudo ocorre nos municípios. Mudar os governantes e legisladores que comungam com os ideais do golpe, ou ainda quem nada fez contra a tudo isso é uma urgente necessidade, mas ainda é muito pouco diante da atual situação. É fundamental eleger pessoas comprometidas com os projetos populares a participativos e com as mudanças necessárias que o momento exige, além de organizarem seus mandatos através de Fóruns Participativos e Conselhos Deliberativos de Mandatos.

É importante ressaltar que a luta permanente não é contra fulano ou beltrano aliado ao sistema, porque isso não é novidade e sim contra o fascismo que acabou de chegar e invadiu os lares brasileiros dividindo as famílias, além de degolarem a democracia e por em risco a soberania nacional. Uma coisa é certa. Ou o povo de bem luta pelos seus direitos ou não terão história para contar aos seus filhos e netos, além de terem que prestar contas para o futuro.

Quem tem como missão lutar por justiça, liberdade, democracia e tantas outras pautas, mesmo em plenas trevas nunca esmorece, pois sabe que em algum canto desse país há alguém com os mesmos ideais e esse encontro vai alimentando nossos sonhos e as nossas utopias e seguimos de mãos dadas em busca da vitória. A luta continua!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Como se homenageia uma estrela?


Ao olhar no céu e ver milhares de pontos de luz a brilhar, me vem à cabeça num primeiro momento, a escuridão vivida no sítio onde nascemos. Uma mistura de medo, com a contemplação de um céu estrelado com uma lua que desafiava a imensidão do universo e clareava o chão para que pudéssemos caminhar com alguma segurança. Num segundo momento, me vem à certeza que um ser de luz que acabou de partir se tornou uma estrela a nos iluminar.

Por um instante o céu escureceu, se abriu e parou para recebê-la. Era chegado o momento da separação do corpo físico para o inicio de uma nova vida espiritual, onde nada se vê, mas se sente a sua presença por todos os cantos por onde passou. A partir daí até a natureza molhou o chão como uma forma de despedida. Sua partida aconteceu do jeito que sempre quis. Em casa, antes de seu companheiro José e com um clima de paz na família. 

Como entender um ser que nunca reclamou na nossa frente da dura realidade que encontramos em nossa caminhada de vida, nem de uma pequena dor quando sabíamos que poderia estar doendo até a alma?  Ah esqueci! Estrela não reclama apenas brilha e ilumina o caminho de muita gente.

Como homenagear uma estrela? Quem sabe dizendo em alto e bom tom: obrigado por tudo que fez por nós. Obrigado por todos os momentos de cuidados com o filho e com a filha, com as netas, bisnetos, sobrinhos e sobrinhas, genro, nora, amigos e amigas e todas as pessoas que a procurava como um porto seguro. Somos muito gratos pela companhia, pelos ensinamentos e por cuidar de nós.

Quis o destino que o palco da despedida da família mais próxima ocorresse no Dia de Natal, em comemoração ao seu 92º aniversário, onde além do primeiro pedaço de bolo ser destinado ao José, e um brinde com Champanhe, notava-se sua felicidade e gratidão por aquele momento. Registros em fotos e vídeo que servirão para a vida, como exemplo e para matar a saudade.

Lembra-se Nazaré do dia que tivesse que intervir numa montaria e de repente nascia o amor? Pois é. Dia 5 de abril próximo vocês completariam 70 anos dessa gostosa brincadeira. Maria e José completariam sete décadas juntos. Uma vida de muita luta, de idas e vindas, mas repleta de momentos felizes.

Que seu nome seja lembrado como um exemplo de resignação, respeito, carinho e muito amor por todos e todas que conviveram consigo.

Maria Nazaré dormiu para a vida e depois se foi, mas está vivinha numa constelação iluminando nossos dias e noites que virão pela frente.

Obrigado pela existência e por nos iluminar Maria Nazaré de Araújo Cordeiro

Antonio Lopes Cordeiro(Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social








quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Como dialogar com o silêncio?


O silêncio serve para ouvir e nunca para calar.... Frase de Swami Paatra Shankara.
Três coisas que sempre me puseram a refletir: O silêncio provocado, por me sentir incapacitado para qualquer forma de ação ou reação, a escuridão, quem sabe por relembrar meus medos de infância e ter uma relação de grata lembrança com um céu estrelado e uma lua a lhe colorir e de dias nublados e carrancudos em tempos de inverno, onde o frio invade a alma e o que sobra é apenas o semblante de um dia que poderia ter sido de pleno sol.

O silêncio pode se apresentar por diversas formas. O silêncio em momentos de introspecção é um exercício necessário da mente, em busca de respostas para a travessia dos vários rios da vida. O silêncio por precaução quando nos sentimos deslocados e não sabemos como agir e reagir diante de determinadas situações também é algo que se necessita até como refúgio e aquele tipo de silêncio obrigatório em vários espaços e momentos onde a fala incomoda e que é salutar que se respeite.  

Porém, meu objetivo aqui é divagar sobre o silêncio provocado, por saber que é uma forma de comportamento intencional, que afeta milhares de pessoas que são silenciadas e que pode ser prejudicial em qualquer tipo de relação, principalmente por estar presente justamente onde se espera o diálogo como uma forma necessária de se resolver qualquer conflito ou mesmo para evitá-lo.

Ao pesquisar sobre o assunto, um trecho do texto “Deixar de falar com alguém por punição”, disponível no site “portalraizes.com”, me chamou a atenção: “Gerenciar o silêncio é mais difícil do que lidar com a palavra”, disse o jornalista e político Georges Clemenceau. Sem dúvida, o silêncio pode dizer um monte de coisas sem dizer coisa alguma. Mas temos de ter muito cuidado ao usá-lo como punição, pois quando a gente não diz o que pensa, dá ao outro o direito de interpretar o nosso silêncio da forma que ele quiser. E como disse o músico Miles Davis, “o silêncio é o barulho mais alto”.

Ainda algo mais direto: “Usar o silêncio como punição é uma atitude manipuladora e agressiva, pois a indiferença é o pior tipo de ofensa numa relação”. Ainda mais tendo as redes com várias formas de interação.

Quem emite sabe exatamente o porquê de estar emitindo, mas quem o recebe não consegue imaginar o porquê de estar sendo penalizado e recorre à inquietação como forma de buscar respostas.

Vale ressaltar que essa forma de comportamento existe, não só na relação afetuosa ou amorosa entre duas pessoas, mas em diversas formas de relacionamento, profissional, acadêmica, política, de amizades e tantas outras.

O texto traz ainda algo preocupante: “A pessoa que é vítima de tratamento de silêncio vai se sentir confusa, frustrada e até mesmo culpada. Também se sentirá sozinha e incompreendida. Obviamente, esses sentimentos não contribuem para melhorar as relações e resolver o conflito, pelo contrário, eles criam uma crescente lacuna”.

Que esse tipo de silêncio prejudicial à saúde mental seja banido de todas as formas de relacionamento sadio, pois nada é mais eficiente do que uma conversa cara a cara e olho no olho e na impossibilidade momentânea dessa forma de comunicação, basta uma linha de interação para que tudo se aquiete, ou nada se crie que venha a exigir uma solução futura. Comunicar-se é dar a atenção que a outra pessoa necessita.

Fale, grite, comunique-se, expresse sua reação e diga o que pensa em palavras ou em escrita, mas nunca use o silêncio como uma forma de reduzir ou de provocar ansiedade a quem está contigo nas caminhadas da vida, pois muito mais difícil que entender o universo que envolve as pessoas é tentar adivinhar o que se passa em suas cabeças em relação a nós. Prefiro muito mais errar falando a achar que acerto me silenciando.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O que virá após a travessia?


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Minha intensão era abrir o ano do Blog com uma conversa sobre o silêncio provocado. Algo que sempre me incomodou e que já se encontra pronta a partir de uma ampla pesquisa sobre o assunto, mas ao refletir cheguei à conclusão de que melhor mesmo é falar, cantar, gritar e dizer ao mundo o que meu coração sente. Quem sabe o eco da minha voz soe levemente como uma canção daquelas que se cantarola sempre e que não sai da nossa cabeça.

A partir desse contexto e buscando um complemento para o texto anterior, além de apostar sempre na minha disposição para continuar nadando nos rios da vida, cá estou para mais um ano cheio de esperanças e disposto a fazer grandes mudanças internas durante a viagem, no sentido de colher melhores resultados do que o ano que passou e recorrendo sempre à sabedoria para que eu possa aproveitar cada momento que virá como se fosse o único em minha vida.

Como você enxerga o ato de viver? O que é a travessia para você? Que sonhos te movem rumo ao por do sol? A consciência política nos faz enxergarmos o “ser” como valor absoluto versus o “ter”, como avaliação humana? Será?

Particularmente enxergo a vida e o ato de viver como uma viagem e suas travessias nos diversos rios da vida. Algo que não temos o menor controle sobre a duração da viagem, do que encontraremos pela frente, de quem vai nos acompanhar durante o percurso ou quem sabe de quem vai nos recepcionar na chegada. Uma verdadeira aposta. Há quem viva de fantasias e há quem procure uma fantasia para viver...

Se tivéssemos a capacidade de mudar o passado, eu teria algumas coisas para mudar, principalmente me lembrando do tempo de vida como eixo principal, mas como não temos esse privilégio, vou aprendendo com meus erros e agregando novos conhecimentos por onde passo e com quem se dispõe a caminhar comigo futuro afora.
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Não podemos mudar nada do que já passou. São apenas memórias. Umas nos alegram outra nos põe a pensar, mas no caminho que está à nossa frente podemos controlar a rota, tirarmos belas fotos, nos enriquecer com a natureza e falarmos tudo o que se encontra em nossos corações. Podemos até sentir os pingos d’água em nossos rostos.

Ao fechar os olhos e mirar numa dessas viagens que tive o prazer de fazer, vejo à minha frente um imenso rio de águas límpidas nuns dias e turvas em outros, com pequenas ondas feitas por diversas embarcações que o desafiam todos os dias. Não consigo enxergar suas margens e uma sensação de infinito me vem à mente e me causa inquietação. Chegando mais perto vejo peixes em abundância, nadando em círculos, que é a promessa de alimento farto, pois aquele rio ainda não tem dono.

Aquelas cenas me levam a muitas reflexões e a partir delas muitas perguntas me vêm à cabeça, entre elas como pretendo chegar ao final da viagem? A travessia pode ser encarada de diversas formas. Algumas pessoas nem veem a vida passar, pois vieram ao mundo a passeio, outros e outras se angustiam por não saberem conduzir o barco e outros e outras parece não ligar se a viagem for interrompida a qualquer momento, pois colheram tudo que podiam e se encontram fartos e fartas do manjar dos deuses.

A travessia pode ser compreendida como o passar de mais um ano, mas também pode ser o início e o fim da própria vida. O importante é sempre lembrar que ao acordarmos amanhã, a travessia pode ter sido a passagem do dia de hoje para o de amanhã, onde novas portas se abrirão e o livro da vida estará sempre aberto para que possamos escrever mais um capítulo da nossa história. A minha história já tem algumas páginas escritas, mas quero muito mais... Boa escrita e boa travessia para todos e todas.

Vamos escrever uma parte das nossas histórias juntos?

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social



segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Às vezes precisamos de uma mão para atravessar o Rio

 

Fiquei imaginando o que escrever como último post do ano, que mostrasse um ar de otimismo, apesar de um ano que tínhamos que apagar da história, tamanho os absurdos que ocorreram.  Tudo isso me lembra o Teatro do Absurdo que tantos discutíamos nas leituras de mesa.

Minha pretensão nesse texto é convidar quem ler para uma pequena viagem em minhas inquietações e sonhos e analisando as soluções que procuramos no dia a dia, como resposta aos diversos obstáculos que nos aparecem, como uma verdadeira travessia nos diversos rios da vida. Porém quero iniciar com o relato de um sonho que tive que não me sai da cabeça.

Sonhei a alguns dias que andava num vale desconhecido povoado por seres gigantes. Eram figuras enormes, que com um simples toque podiam interromper a passagem de seres como eu que caminhavam pelas veredas da vida. Lembro-me que sentia medo do que pudesse acontecer. A pergunta era: onde eu podia me esconder do perigo, se não conhecia o caminho?

Lembro-me ainda que para me sentir seguro tinha que atravessar um longo rio, sem saber o que poderia encontrar no caminho e o que havia do outro lado. De repente me lembrei de que não sabia nadar. Uma espécie de medo, frustração, insegurança e pavor tomaram-me naquele instante por não saber o que fazer. Fiz planos mirabolantes, tentei me esconder para ganhar tempo e cantei para disfarçar. Depois de um tempo interminável acordei com a nítida sensação de que ia ser devorado por algum gigante que me descobrisse naquela situação.

Às vezes é assim que nos sentimos, ora eufóricos por acreditar que venha o rio que vier pela frente que faremos a travessia, tamanho é o nosso entusiasmo e segurança e ora inseguros por não sabermos com clareza com quem podemos contar para a travessia e quem ficará conosco do outro lado do rio. Qual o solução para situações como essa? Aprender a nadar e apostar em companheiros e companheiras que achamos que estará conosco em qualquer situação. Erros e acerto fazem parte das nossas viagens, mas o que não podemos é desistir de tentar. Sempre acreditar ser possível atravessar.

Por mais que achemos que somos seres completos e que nos bastamos, somos seres em eternas mudanças, em ebulição e em constante recriação. Somos hoje o resultado do que éramos ontem, aliados aos sonhos do que podemos ser amanhã. Ninguém se sente feliz ou seguro caminhando sozinho.Somos seres que precisamos de outros seres que nos façam companhia.

A partir desse cenário, algumas perguntas nos vêm diariamente. Como viver a vida em sua plenitude? O que fazer para nutrir nossos sonhos? Com quem podemos contar na atualidade que atravessaria o rio conosco?

A vida é apenas uma curta viagem que não temos o menor controle sobre ela. Um presente a ser vivido dia após dia até o último dia. Composta por adoráveis momentos, fortes lembranças, mas também de vários obstáculos a serem vencidos em sua trajetória. Aconselha-se vivê-la um dia de cada vez com uma noite no meio, que tanto pode ser de plena escuridão, como acompanhada por um céu estrelado e uma linda lua a colorir sua imensidão. Você já dormiu mirando um céu estrelado? Dizem que é cena inesquecível.

Precisamos de muita sabedoria para identificar quem é quem na escalada da vida, para que não cometamos o erro de nivelar ou tudo por cima ou tudo por baixo, que se constitui num julgamento prévio de conclusão de algo ou de alguém que não temos a história completa para julgarmos com convicção. Ou quem sabe o erro seja definir e concluir um ser, às vezes pelas nossas inquietações, que pode muito bem nos surpreender de forma positiva. Assim sendo, muita calma nessa hora. Aprender, crescer e mudar é o caminho.

Quantos rios, tivemos que atravessar sabendo ou não nadar. Quantos medos, tivemos que superar para fazermos a travessia sozinhos. Quanta água, tivemos que enfrentar para chegarmos até aqui. Essa soma de resultados é que chamamos de experiência de vida e uma parte importante das nossas histórias. O bom mesmo é saber que a vida segue seu curso natural, mas enquanto vida tivermos, o rumo das nossas vidas ainda está em nossas mãos.

Sábios e sábias serão aqueles e aquelas que entenderem que nunca sabemos tudo, que somos eternos aprendizes no ato de viver, que precisamos sempre de alguém para atravessar conosco os diversos rios da vida e se a vida nos permitir com vida, nós faremos a travessia de 2019 para 2020 querendo mais, buscando mais, amando muito mais e acreditando que o melhor ainda está por vir. Estarei sempre com a mão estendida para ser solidário na travessia de alguém. Feliz travessia para todos e todas! Seguimos juntos!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O LOOPING E A SAÍDA PELA ESQUERDA

Foto: Portinari - Parte do quadro Guerra e Paz

No ano de 2019 vivemos tempos únicos para a nossa geração. Entre diversos fatos, cenários e um Golpe de Estado, gostaria de esclarecer que o presente texto não se esgota nas poucas reflexões dos seus parágrafos. Este artigo pretende aprofundar sobre um diálogo fraterno entre as massas, o Looping e a vanguarda política da esquerda brasileira e latino americana.

São tempos de cem anos da morte de Rosa Luxemburgo, um ano sem Marielle Franco. Tempos em que metade do ano se deu como prisão e os demais meses como liberdade, ainda que temporária, mas com a liberdade do ex presidente Lula. São tempos de centenas de atos em diversas cidades brasileiras contra os ataques no mundo do trabalho e nos direitos sociais.

Tempo de resistência ao modelo fascista imposto pelo governo federal, comandado pelo presidente Jair Bolsonaro que através de um golpe chega ao poder. Este governo se constitui conjunto às igrejas neo pentecostais, empresariado, imprensa, judiciário, latifundiários e com as milícias. Um equilíbrio de forças que se traduz na ascensão do neoliberalismo e o neoconservadorismo no país.

São tempos também para refletir até quando vamos ignorar a realidade social vivenciada pela população pobre. Não que as vanguardas da esquerda brasileira não se importem com a pobreza, mas antes disso. Qual a percepção de revolução que temos dialogado com a sociedade, quem são os atores políticos deste cenário posto? O que o Marx chamaria de Lopping do Proletariado poderia ser considerado?

Nos últimos meses deste ano, como exemplo o filme Coringa e sua proximidade com os personagens do esquadrão suicida da DC Comics reforçam um debate na sociedade, em especial aos mais jovens. Através do cinema como expressão artística, as frustrações, sofrimento mental derivada da violência capitalista nos levarão sem dúvidas à barbárie. Não há mudança mais objetiva do que a força se coloca. Como Lênin nos convida à poesia, nas noites mais escuras se mostram mais brilhantes as estrelas.

Porém, no centenário de Rosa Luxemburgo, a importância de pensar o papel das massas e da vanguarda se faz a cada dia mais necessário. As nossas direções políticas da esquerda brasileira e latino americana tem condições de propor a direção apenas com as massas que hoje se alinham politicamente? Quem falta nesta construção? Até quando vamos deixar de lado setores criminalizados como aqueles que se realinham entre a sobrevivência dos presídios, a resistência a ordem jurídica posta.

O que se configura como Looping do proletariado isoladamente não consegue fazer a revolução, dará voltas dentro de si. Mas se houver a direção? Quem tem a possibilidade de contribuir com estes caminhos?

O Lopping do proletariado é na atual conjuntura capitalista revolucionário apenas por existir, ou melhor resistir. Estar na contramão dos valores morais e religiosos e dar conta de propor atos heroicos em uma sociedade punitivista e proibicionista como a que vivemos na América Latina por si já é revolucionário. O descontentamento com as condições de vida, a frustração social provocada frente as mazelas do capital e a meritocracia desviam boa parcela da classe trabalhadora ao Looping do proletariado.

Arrisco afirmar que toda a classe trabalhadora, de formas diferentes tem a sua contribuição no processo revolucionário, na coragem das armas mesmo sem um entendimento da importância política e da ausência da coragem de propor a continuidade da história da revolta popular, mas compreendendo a importância da direção por uma outra ordem de sociedade.

O que as vanguardas devem compreender que a sociedade é criada dentro da ideologia burguesa, não somos nascidos para ser revolucionários. A nossa capacidade de acreditar na opção de classe e que classe em si e para si é um elemento fundamental para perceber que todas e todos nas relações sociais podem ter um papel estratégico e revolucionário, a direção da história é o seu tempo. Marx nos ensina que a história da humanidade é a história da luta de classes e mulheres e homens fazem as mudanças históricas nas suas condições objetivas.

O que passa para além do código penal brasileiro é a resistência da grande maioria do povo que frustrado socialmente não aceita mais ser humilhado nas condições postas pelo capital, Qual a cor, a origem e o perfil de quem está socialmente criminalizado, condenado ou não?

Se o Looping não tem direção que a vanguarda seja! Se a vanguarda não tem a ousadia que o Looping seja!

É hora de traduzir toda as violências do capital e as reações, por mais diversas amorais que sejam, mas datadas pela classe trabalhadora (inclusive o Looping) como ações possíveis de uma reorganização do poder popular.

A história das lutas sociais no Brasil tem como exemplo o Banditismo no sertão brasileiro, sendo que Maria Bonita, Lampião e diversos atores políticos importantes que se entendiam como bandoleiros, cangaceiros e matreiros foram também exemplo de nossa história. Toda resistência parte da ilegalidade, porque a ordem posta não configurará os cenários de avanço das trabalhadoras e trabalhadores da luta de classes como revolucionários.

Mariguella, à 50 anos atrás foi condenado a pena de morte por ocupar a rádio nacional e construir um alinhamento político entre toda a classe trabalhadora sobre as formas de resistência e luta contra a ditadura civil, empresarial e militar que durou 20 anos no Brasil.

Quem são os bandidos? Somos os bandidos? Somos a revolução e todas e todos temos a sua importância e o seu espaço na construção histórica do poder poder. O medo nos serve de fomento para ousadia e coragem, inclusive de possibilitar a escrita para a leitura deste texto. A América Latina sangra e resiste e não haverá justiça, paz e liberdade enquanto nosso território servir de quintal para o imperialismo sem resistência.

Povo latino-americano, e todos os povos, uni-vos!
Leonardo Koury
Belo Horizonte - MG

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Uma linha imaginária que liga sonhos à realidade


Não se preocupe com a distância entre os seus sonhos e a realidade. Preocupe-se com a constância em que coloca em pratica as suas ideias!!! (Fabian Baldovino) #mindset
Sonhos, fantasias, utopias, crenças, ilusões, paixões, amor e tantas outras subjeções que habitam nossas cabeças e nossos corações e quem sabe sejam elas que acabam alimentando a nossa própria razão de viver. Quando uma pessoa para de sonhar ou de amar está morta para a vida e quem morre para a vida morre também para si próprio.

O objetivo dessa prosa em final de ano é caminhar por veredas onde a construção dos sonhos, das fantasias e das utopias se dá. Onde se busca o alimento necessário para se acreditar no ato de viver e no de amar. O amor que é a última instância da nossa sensibilidade, onde habita o ser, o ter e o viver. Onde se produz expectativas abstratas e onde nossa imaginação anda muito mais rápido que a velocidade do ar. O mesmo ar que respiramos e que nos dá vida, que às vezes o dividimos com alguém para que forme um par. Um ciclo que faz o coração bater mais forte com a possibilidade da realização do que se sonha e se entristecer quando tudo não passa de uma bela ilusão.

Às vezes nos deparamos com pessoas tão certinhas em termos de projeto de vida, que até imaginamos que elas tenham saído das histórias em quadrinhos diante da realidade de cada um de nós e isso, primeiro nos assusta pela comparação e segundo nos remete a fazermos uma reflexão para se saber o que foi, o que é ou o que ainda poderá ser em termos de vida, mesmo que dependamos da sorte, da junção de acertos, do bom uso do tempo, para que alguma coisa extraordinária ocorra, além da possibilidade de que nada ocorra em contrário e torcermos para que estejamos aqui para comemorarmos as vitórias e conquistas obtidas. Algo exclusivamente ligado ao destino e ao acaso. A vida é apenas um sopro que não temos o menos controle.

Em regras gerais, algumas dessas pessoas certinhas foram mais eficazes na busca dos melhores resultados, das melhores práticas e souberam se planejar para o tempo vindouro. Enquanto isso quem está muito distante dessa realidade sente os dias de vida fugirem das mãos e uma sensação de derrota logo aparece para questionar se ainda dá tempo ou não. Aí vêm os sonhos e as utopias nos dizendo que enquanto há vida há esperanças e reais condições de acontecer. O que não se pode é desistir.

Em profunda reflexão me vem sempre à cabeça a conversa que tive com Paulo Freire em 1989, que ele fechou dizendo: “Nunca esqueça que somos seres movidos por sonhos, que temos que alimentá-los todos os dias para que não morram e quem move os sonhos são as nossas utopias, que se constituem numa longa caminhada de crenças rumo ao futuro e à nossa própria história de vida”.

Por um lado caminhamos pelos nossos pensamentos sem certeza alguma. Buscando às vezes o que nem imaginamos existir, mas por outro, acreditamos nos sonhos e nos alimentamos deles como se tivéssemos bem perto de suas realizações e é isso que nos faz continuarmos caminhando. Dormimos no hoje e acordamos no amanhã. Uma passagem simbólica que junta num curto espaço de tempo passado, presente e futuro.

Um intervalo no tempo onde uma viagem interior acontece através dos sonhos, sem termos o mínimo de controle sobre ela e sobre eles. Quando acordamos lembramos apenas de uma pequena parcela desses sonhos, ou às vezes nenhum deles. Quem sabe as respostas para a maioria das nossas perguntas estejam naqueles sonhos que se perderam no sono profundo e sobra apenas a vontade de que essas respostas do que almejamos possam estar no próximo sonho que tivermos e lembrarmos.

Mais um final de ano se aproxima e nosso imaginário é levado a construir sonhos para o novo ano. Algo inerente aos seres humanos que ainda conseguem sonhar.

Um momento onde mente e coração andam de mãos dadas comemorando o que se conquistou até o momento e um nutrindo o outro para que novas coisas boas possam dar o ar da graça no ano que se aproxima. Precisamos entender apenas que coisas novas só poderão acontecer em nossas vidas se nos dispusermos a fazer coisas novas.

Que nunca paremos de sonhar. Que sejamos alimento para novos sonhos. Que sejamos refúgio para quem nos procura, luz para quem nos segue e amor para quem enxerga em nós uma nova forma de amar. Boa caminhada para todos e todas rumo ao que se sonha...

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

E se...


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Quem sabe que por falta de assunto ou ainda para não repetir o mantra de que estamos em pleno caos, que esse caos nos invade e com muito pouca perspectiva de mudanças em curto prazo, mesmo para quem tem uma causa para lutar, trago para reflexão um fragmento nas nossas inquietudes, que requer um olhar atencioso no passado e um pensar mais profundo do que possa ser feito de diferente no presente de nossas vidas. Um olhar para o que já foi, para o que é e para o que gostaríamos que fosse ao amanhã, mesmo em dias nublados, mas sempre esperando que o melhor ainda está por vir.

Um tema que nos leve a refletir e fazer um exame de consciência, para ajustarmos o foco do presente mirando nossos sonhos e utopias futuras.

E se... Tivéssemos o poder de voltarmos ao passado da nossa existência, ao ocorrido ontem, ao dia anterior, ou ainda há minutos atrás, seja em que passado e tempo forem, o que faríamos de diferente? O que mudaríamos em nossas decisões ou em algo que fizemos e nos arrependemos em fazer? O que o ocorrido de forma diferente poderia ter mudado em nossas vidas? O que desagradou ou feriu alguém, teria conserto? Ainda é possível ser feito?

Enfim, o que pretendo chamar a atenção nessa complexa temática, é que passado, presente e futuro estão sempre na pauta das nossas decisões e às vezes por distração ou mesmo por certa arrogância, nem nos damos conta e quando acordamos já nem dá mais tempo do que poderia ter sido feito...

Vale lembrar que muitas das nossas decisões e atitudes ocorrem em muitos casos apenas para justificarmos o nada ou enfatizarmos para outras pessoas que somos assim ou somos assados e nada acrescentam de valor em nossas vidas. É quando o senso de liberdade que achamos ter ultrapassa a barreira do bom senso e acaba como um troféu de coisa alguma...

Uma pesquisa feita com essa dimensão, por certo revelaria que cada pessoa teria uma história para contar de algo que se arrependeu em fazer ou que faria de forma diferente, que não foi feito por falta de atitude, ou quem sabe de alguma atitude tomada que mudou o ciclo natural da vida. Algo que requer apenas uma reflexão para que se possa fazer de forma diferente no presente, mas jamais para ficar preso na bolha do tempo venerando o passado. O que foi se foi...

Algo é certo! Tudo isso nos mostra de forma muito clara que somos seres frágeis perante a vida, pois nem podemos mudar o passado, tampouco temos qualquer controle sobre o futuro e assim só nos cabe um olhar com muita atenção para o presente, para que o amanhã seja perto do que gostaríamos que fosse. Que tal cuidarmos com carinho do que temos para o momento?

Certa vez conversando com uma pessoa sábia ela me disse que como humanos que somos nunca devemos dar o ar de que sabemos tudo, pois na imensidão da vida sabemos muito pouco e quando sabemos ou não damos a importância devida ou não sabemos o que fazer com o que temos em mãos, em nossas cabeças e principalmente em nossos corações e por isso muita coisa se perde no vácuo das nossas indecisões ou indefinições. Quando menos se espera o tempo trouxe e o tempo levou de volta. Quem sabe isso ocorra por apenas usarmos dez por cento do nosso cérebro e as nossas certezas estarem em algum lugar dos noventa por cento que desconhecemos.

Estamos diante de um final de ano que se bem analisado temos que dar Graças por termos sobrevivido e temos que comemorar a vida, tamanha a estupidez de tudo que aconteceu. Perdemos pessoas para a morte, mas também algumas delas pelas escolhas que fizeram e nos separou em vida. 

E se tudo tivesse sido diferente? E se tivéssemos sido mais tolerantes? E se o acaso não tivesse intervido ao que imaginávamos ser o destino? E se a vida não tivesse dado uma curva que nos colocou em plena encruzilhada?

O que passou não volta mais e nem deve ser visto como algo tão relevante, pois o relevante mesmo é termos acordado hoje, ouvido uma música que alguém por descuido nos mandou e imaginarmos que tudo pode ser diferente e que as nossas decisões estão no livre arbítrio do que ainda podemos ser.

Que venham as festas, que venham os sonhos, que venha a vontade de viver. Que venham os momentos de celebração de todas as utopias que nos fazem existir e caminhar, mas que venham principalmente nossos cuidados e atenção com a arte de amar, porque amar é viver e viver é amar.

Salve o ontem da nossa existência por tudo que tivemos. Salve o hoje com o que conquistamos e está em nossas mãos e salve o amanhã que é onde deixaremos nossas histórias espetadas na árvore da vida.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

terça-feira, 5 de novembro de 2019

O tempo e Suas Faces


Tic-tac é o som do relógio marcando o tempo. Eu particularmente gosto de pensar no tempo não cronológico e sim filosófico. E é partindo daí que quero começar minha reflexão.
Quando penso no tempo, me arremeto as fases da lua, ao nascer e o pôr do sol, a chegada e o findar das quatro estações, do processo de polinização das flores do meu jardim e também pelo fim dos ciclos de evolução da minha vida. Sim, ciclos de evolução, porque hoje entendo que tudo que vivenciamos é um processo evolutivo quanto individuo, depende só de nós a forma que usaremos as lições que a vida e as nossas escolhas nos traz, eu sei, é mais fácil se vitimizar, tomar uma situação como certeira, pra justificar seu medo de tentar novamente, eu sei, já fiz muito isso. Mas hoje não mais.
Ah o tempo e suas tantas subjetividades, para uns é inimigo, este tempo que não me permite fazer mais, dormir mais, sair mais, dançar mais, comer mais, amar mais, brincar mais, estudar mais, e mais e mais e mais. Pra outros é cômodo, meu tempo já passou, não preciso mais correr, foi o tempo. Pra uns é esperançoso, um dia vou fazer, chegará meu tempo, quem sabe um dia. Já pra outros é imediato, se for tem que ser agora, não deixe pra amanhã o que se pode fazer hoje, só se for agora.
E o que todos esses olhares tem de errado? Nada. Absolutamente nada, pois cada um tem seu TEMPO!
É fácil eu olhar para as situações do outro e pré-julgar a partir da minha percepção, da minha construção de vida, do meu olhar, difícil é entender que cada um tem suas próprias construções, esta é uma ótima oportunidade de colocar em pratica a empatia.
Eu, decidi escrever meu primeiro texto aqui no blog com este tema, porque o tempo tem feito muito sentido na minha vida, na minha construção e evolução, eu já o vi como inimigo, já o tratei ilusoriamente apenas como futuro, mas hoje, eu o vejo como aliado, o meu tempo me permite viver, sentir, querer mais, ter intensidade e verdade em tudo que me proponho a fazer, a não ter medo das consequências que virão das minhas escolhas, porque eu vivenciei e explorei. Que bom seria se nas nossas relações as pessoas estivessem no mesmo tempo que a gente, seria tudo mais fácil né?
Não me permito viver com medo por conta de possibilidades que nem sei se acontecerão, num futuro que espero que chegue, mas que nem posso garantir, tenho um presente nas mãos e o que fazer com ele? Não escolho anular meu presente em função do futuro, ambos devem caminhar leves, em paz um com o outro, sem que eu precise me neutralizar.
O tempo é o que você quer que ele seja, você escolhe suas prioridades, suas necessidades, só não esqueça, não dê tempo ao tempo, porque ele não precisa disto, nem você.

Débora Machado
Psicóloga e Pesquisadora Científica

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Viver entre a Emoção e a Razão

Escrever num blog tem algo de fascinante, principalmente pelo fato de termos a liberdade de escolhermos o tema que quisermos e não ter que passar por nenhum julgamento, seja literário ou político-ideológico, restando apenas uma prestação de serviço de qualidade aos leitores e leitoras que acompanham essa aventura literária desde 2013.

O tema escolhido de hoje é um caminhar por essa dualidade de sentimentos, tão distintos e tão antagônicos, que compõem as nossas vidas. Viver entre a Emoção e a Razão é, antes de tudo, algo que nos desafia em busca de equilíbrio.

Enxergo a Emoção e a Razão como dois lados de uma mesma moeda, que convivem com os seres humanos e tomam assento onde forem chamadas, porém de comportamentos e resultados completamente diferentes uma da outra, que faz com que identifiquemos cada ser humano, a partir do tratamento que se dá entre uma e outra.

Enquanto a Emoção nos joga no centro do universo de todas as emoções e a partir dele sentimos diretamente todos os efeitos do sol, da chuva, do sereno, do frio, do calor e principalmente dos efeitos do silêncio, além da entrega emocional ser intensa; a razão por sua vez tangencia tudo isso a partir da sua capacidade de enxergar a linha do horizonte, vista de cima e se antecipar a qualquer tempestade. Enquanto a Emoção nos bambeiam, a Razão sobe no telhado só para provar que não depende de nada para existir.

A Razão nos ensina o desapego, que do ponto de vista emocional é tudo que se precisa para deixar a vida nos levar, sem a preocupação do que venha a nos seguir ou nos habitar. Por outro lado a Emoção nos empurra ladeira abaixo e em muitas situações precisamos de uma mão invisível que não nos deixe cair. A Razão é fogo que queima quem se aproxima e a Emoção é chuva e tempestade, que requer um lugar seguro para não sermos arrastados e arrastadas pela correnteza.

Há quem diga que a Razão mora no alto de uma colina só para ter o controle da natureza, evitando atropelos e descendo do morro, apenas quando lhe dá na telha. Por outro lado, dizem que a Emoção mora numa casinha colorida, onde a felicidade habita, porém, sempre preocupada com a enxurrada em tempos de tempestade, que ponha abaixo a construção que levou anos para ficar pronta.

Como avaliar o que nos faz mais bem? Como enxergar se há tempos distintos para que uma ou outra conviva com nosso bem-estar? Como saber a melhor hora para usarmos a Emoção e qual a hora de chamar a Razão?

Prefiro fazer isso cantando para uma sereia que me desafia, antes de eu ser induzido por ela a entrar na água, sem saber nadar e sucumbir como nas lendas que crescemos ouvindo. Meu canto surge como uma defesa nos momentos mais inusitados e ancora naquela canto onde tudo começou.

De onde vem a minha segurança? Vem dos tempos vividos, das emoções que sempre transbordaram em minha vida e da vontade de voltar naquela noite estrelada que ficou na história, vencendo todos os medos e me apegando apenas na possibilidade de andar em plena escuridão de mãos dadas com uma fada madrinha que saiu das histórias em quadrinho e me fez companhia. Parece loucura não é? Aprendi nas curvas da vida que todo mundo que é sadio ou sadia necessita de uma alta dose de loucura para deixar que a Emoção venha por onde a Razão nem desconfia.

É muito bom ter várias histórias para contar, pois isso alimenta nosso ego e descreve, passo a passo várias etapas das nossas vidas, mas muito melhor é estar de corpo e alma dentro de uma lenda e escrever todos os dias um novo capítulo do que ainda nem desconfiamos como será o desfecho. Ao permitir que a vida siga conosco no comando, vamos assistindo um grande duelo diário entre nossas emoções e a nossa razão, onde no final sobreviverá quem nos der o maior tempo de prazer que possamos ter.

Do ponto de vista particular, sou muito mais emoção que razão e isso me faz um ser dramático em tantas horas, e outro extremamente apaixonado pelo ato de viver.

Ser Emoção é viver se equilibrando entre o topo e a base, entre o riso frouxo e o choro contigo, mas de uma emoção sem igual quando a chuva passa e aparece no alto um arco-íris a ser contemplado. Só aí que podemos avaliar que a emoção entra pelo coração e invade alma a dentro, fazendo com que tudo valha a pena. Só assim descobrimos que quem vive de amor se banha naquela fonte ocupada por uma lenda que diz que amor foi dormir muito pobre e a noite sonhou que tinha ficado rico. Ao acordar deu de cara com um vasto jardim e pessoas apaixonadas colhendo flores para seus amores.

Bem-vinda a dose de Razão necessária para que a Emoção não tome conta do meu ser.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

M U L H E R



Arlete Rogoginski *
Essa linda criatura
Que ao mundo Deus mandou
Tem poder de dar a vida
Imitando o criador

Essa força criadora
Por todos chamada mulher
Tem a força de uma fera
E encara o que vier

Pelo filho faz de tudo
Dá a vida, se preciso
Chora, ri, cai e levanta
Padece no paraíso

Quando o filho adoece
É ela quem mais sofre
Passa noites sem dormir
Com bênçãos o filho cobre

Sofre muito vida afora
Machismo, preconceito, humilhação
Às vezes pensa que essa angústia
Não terá uma solução

Se é negra, pobre e analfabeta
Essa angústia ainda é maior
Pois a fome e a miséria
É o que enxerga ao seu redor

Mas mulher enfrenta tudo
Da dor do parto à velhice
Leva acalento a todo canto
E encanta com sua meiguice

Aos homens dou um recado:
A mulher não trates mal
Pois nascestes de uma delas
Sem mulher não há natal

Sem mulher não há beleza
Nem carinho ou harmonia
A mulher que traz a vida
Com amor e valentia

E ela é responsável
Por muitas transformações
Pois lutou em toda a história
Fazendo as revoluções

Às mulheres deste mundo
Tenhamos amor e gratidão
Pois como disse o papa Francisco:
Pelas coisas da criação
É a mulher a criatura
Com mais sensibilidade;
Diferente dos homens
Tem um olhar mais profundo
Sem a presença da mulher
Não haveria harmonia no mundo!
Arlete Rogoginski
Formada em História e Gestão Pública
Diretora do SINDIJUS - PR

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Que o vento leve o que não for leve...


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Quando me atrevo a escrever sobre a essência humana, me vem à memória o Samba da Benção de Vinícius de Moraes, que num dos versos diz: "Mas para fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não". Nessa mesma linha, para se escrever um texto com pureza é preciso um bocado de sentimentos, misturados com uma certa inquietação, para que o que se escreva venha do coração.

Vivemos tempos pesados, com uma estranha apatia pela extrema maioria da população. Uns e umas por pura conivência com a atual situação e outra parte, como na música do Zé Geraldo, tudo isso acontecendo e eles e elas na praça dando milhos aos pombos. Faz-se necessário uma forte ventania que varra toda erva daninha que foi plantada, de propósito, em meio aos roçados que estavam em plena produção, quem sabe que por maldade, para que nem os pássaros possam se alimentar.

Ao me reportar ao vento penso em duas situações bem distintas. Primeiro que vento e tempestade estão intimamente ligados e toda tempestade nos deixa em tensão e de alerta e necessita de um lugar seguro até ela passar e segundo que vento me lembra também que necessitamos dele, sem ventanias, para que as pipas continuem no ar.

Minha relação com uma pipa sempre foi das melhores. Uma brincadeira leve do ato de viver. Um desafio constante para aprender a empiná-la e permanecê-la no ar. Algo que me remete ao passado com tantos momentos felizes e de pura distração. Pipar é um dos melhores momentos que uma pessoa possa viver. Pipar é o remédio para tantos aborrecimentos da vida. Ah se eu pudesse pipar exatamente agora...

Como não tem pipa agora, fecho os olhos e logo me imagino em pleno voo, como uma pipa, pelos ares dos meus pensamentos. Uma gostosa viagem de emoção e equilíbrio. Paro para tomar fôlego e conseguir ir muito mais além, que é o principal objetivo, sendo que de vez enquanto aparece um obstáculo intruso no caminho sem nenhum sinal e tenho que desviar em tempo, com todo cuidado para não cair de uma altura que eu não dê conta. Um momento de reflexão, onde metáfora e vida real se fundem num só pensamento e nas diversas possibilidades que a vida nos dá e nos remete a pensar.

Em voo, observo a cidade em movimento. Pessoas transitam de um lado para o outro sem se olharem ou se cumprimentarem. Sinto vontade de descer e de intervir naquela situação, mas observo que uma grande parte delas trava uma luta desenfreada individual por algum tipo de poder e quando consegue seu objetivo não sabe o que fazer com ele. Por outro lado muita gente unida e de mãos dadas em busca da terra prometida.

Ao descer, chego à conclusão que as tensões do dia a dia vem sem a gente esperar. Dias nublados com frio intenso na alma. Coisa que nem mesmo uma pilha de cobertores aqueceria. Algo que vem no vento e no vento mesmo será despachado. Vivemos tensões as vezes que não são nossas, mas nos afetam pela solidariedade e pela convivência.

Existe nas entrelinhas de cada análise que fazemos de alguém e em especial daquelas pessoas que não conhecemos ao todo, apenas o que elas permitem que enxerguemos, suas verdades expostas, histórias de vida e culturas desconhecidas. As vezes exercemos um julgamento, porém sem nem sonharmos o que possa habitar nos corações das pessoas em julgamento, pois coração é terra que ninguém anda, além da própria pessoa. 

Em resumo, a vida é um eterno aprendizado. Passamos por altos e baixos, a partir das nossas escolhas. Sofremos e vibramos as vezes calados por não ter com quem dividir nossas emoções e em cada análise mostramos o quanto somos afetados por nossa cultura machista, por nossos preconceitos, por nosso senso de liberdade equivocado, que as vezes existe apenas para justificar determinada situação e por nossa forma de ser, que achamos ser a mais politicamente correta do universo.

Esquecemos ao justificar nossas ações que somos seres em constante transformação, em processo de busca de identidade permanente e porque não dizer, seres inacabados. Ninguém é o que parece ser e sim o que de fato é. Isso nos remete a necessidade de diálogos permanentes, de interação e de busca do conhecimento do universo onde a pessoa habita. Quem somos de fato cada um de nós? Será que nós mesmo nos conhecemos?

E o que falar da felicidade? Particularmente trato o senso de felicidade, a partir de referenciais e não de forma individual e isolada, porque isso não existe. Minha felicidade existe porque o entorno onde habito como ser humano e tudo o que me envolve me leva a um estado de espírito que se traduz em momentos felizes. Algo, no meu caso, que nasce e se fortalece com a filosofia central de Ubuntu: “Sou porque somos”. Esse, no meu entendimento é a razão central da nossa existência e de qualquer relacionamento que se preze.

Nesse mesmo contexto estão os julgamentos que fazemos das pessoas, ou de determinada pessoa. Mesmo com toda capacidade política de entendimento da realidade social que nos cercam, quando julgamos alguém usamos esteriótipos do mundo capitalista e dos diversos desvios da sociedade. O ter versus o ser. O querer exemplificar por conquistas individuais ou julgar fazendo comparações com outras pessoas do mesmo sexo ou da mesma idade. Seja lá por que for, no meu entendimento não há julgamentos sem isenção.

A partir dessa leitura de vida a grande pergunta que fica é: o que fazer para sermos convincentes enquanto seres que amam, que sofrem e que se alimentam do prazer de ver as pessoas felizes com suas conquistas?

Creio que a resposta para essa e outras perguntas que necessitamos fazer, fica subentendido nas entrelinhas das canções que cantamos para quem queremos bem, nos gestos que acenarmos para a vida e no grau de sintonia que estabelecemos com quem queremos nos comunicar. Porém, uma coisa é certa, se não houver comunicação clara entre quem emite e quem recebe e vice-versa, não há relacionamentos, tampouco revolução.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social