Quem somos de fato diante de uma sociedade
de valores tão vis? Quem sabe sejamos o resultado das nossas escolhas, das
nossas crenças e principalmente do que defendemos como modelo de vida e sociedade e
com isso nos vão excluindo. No entanto, isso nos define e nos loga ao mundo das
utopias, rumo a uma sociedade que não nasça do espólio de quem tem, mas que
seja resultado da luta que travamos para que todos e todas possam também ter o
que sonham desde crianças. Somos a resistência viva que pulsa nos corações utópicos.
Do outro lado do nosso mundo
imaginário, uma sociedade pálida, sem cor, sem brilho e principalmente sem amor
ou em desamor, onde os guetos tecnológicos substituem as brincadeiras de rodas,
de pião, de bolas de gude, de pipas no ar e a construção de pequenos sonhos que
se criavam num leve pensar do que seríamos quando crescesse.
Uma sociedade perdida nos
desencontros amorosos, descartados em muitos casos com o risco de virar “casais
margarina”. Algo que se aproxime do velho patriarcado. Sedenta apenas por
prazer, como se só o prazer, desse conta da solidão, das incompleitudes humanas
e das humaneidades ou humanescencias (como diz Mia Couto), que os seres humanos
normais necessitam e se fundem quando Almam juntos.
Uma sociedade que nos mede pelas contas
bancárias, pelo tipo e valor do carro que temos, pelos iphones versus os pobres
celulares e por tantos outros equipamentos e bens de ultima geração, que só uma
pequena parte tem direito a ter. Uma sociedade loucamente consumista que gira apenas
para no máximo um terço da humanidade. As demais pessoas procuram a felicidade à
sua maneira. Ao seu modo.
Nós pobres mortais do mundo real, às
vezes sonhamos apenas em ser o último pensamento da noite e o primeiro do dia
na vida de alguém e com o que gostaríamos de ser que ainda não somos, mas que um dia
poderemos ser. Isso nos faz não desistirmos nunca.
Diante das nossas emoções, dizem as
fadas e os duendes de plantão, que podemos ser o que quisermos ser, no micro universo
que idealizamos ao sonhar com duas almas se encontrando para vadiar em noites
estreladas ou numa estradinha qualquer de uma floresta encantada, que pintamos
em nossas imaginações. Chamam isso de amor. Eu prefiro me metamorfosear sempre a
ser aquela velha opinião formada sobre tudo... Por isso continuo em sonho...
Ontem eu me lembrei que eu já fui tudo. Já fui nada e hoje me procuro para saber quem eu sou. Apenas sei que trago na bagagem anos de experiências e de vivências humanas e reais. Luto diariamente contra a dolorida discriminação de quem acha que não tenho mais idade para ser e sonho com uma casinha pintada de branco, com uma rede na varanda e uma noite estrelada, onde eu possa cantarolar o que o meu coração pedir, pois quem vai estar ao meu lado vai cantar comigo até o raiar do dia.
Que sejamos o que for possível ser e onde as nossas imaginações nos levar, mas bom mesmo é se formos liberdade de asas que voam nos pensamentos de alguém, que nos recebe em manhãs, tardes ou noites, porque o pulsar do coração não se limita ao tempo e pede sempre companhia para compor um conto que sirva para o futuro.
Quem sabe sejamos flores que
nasceram por destino ou acaso, sem avisar, num lugar que seria quase impossível
germinar. Reguem-nos que seremos jardim!
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em gestao Social