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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Quando a primavera chegar…

Ricelle Miranda - Cartunista - Brasília - DF

A escolha desse tema aconteceu após eu sonhar, caminhando distraído por entre flores num longo campo de todos os tons e logo à frente uma densa floresta, me convidando para entrar. Acordei tentando entender que mensagens um sonho desse teria a me dar.

Uma cena que me levou de volta ao passado e me fez recordar de alguns medos que eu tinha ao adentrar numa mata que havia bem perto da minha casa. Entre eles, o de tocar sem querer num pé de urtiga, me ferir de forma desavisada no caminho num pé de jurema ou ainda que um pingo de leite de avelóz atingisse a minha vista. Coisas de criança que só descobriu o significado daquela parte da vida, depois de viver com o que veio a seguir. Descobri ao longo do tempo que éramos felizes e nem sabíamos.

Morávamos num sítio da família, com o privilégio de ter todos os dias um café torrado e moído na hora, feito com muito amor e quitutes da Vó Isabel. Uma corajosa velhinha, muito pequenina, mas de uma valentia sem igual, pois em plena década de sessenta teve a coragem de separar do meu avô, quando foi ameaçada de agressão física e nunca mais voltou para a sua casa e passou a morar conosco. Eu me lembro que dormia numa rede e acordava todos os dias, ou com seu chamado insistente ou com o delicioso cheiro de café que ela acabara de fazer. Era assim que começava todos os nossos dias.

Voltar ao passado em momentos felizes, para buscar disposição para os enfrentamentos necessários na construção de um novo amanhã, num país dividido entre quem sonha e quem tem pesadelos ou ainda quem é capaz de cultivar uma flor em plena guerra e quem a destrói apenas pelo prazer de matar. Esse é o momento atual que vivemos.

Vivemos numa época de permanentes dias nublados, de plena escuridão em telas sem cores e de um silêncio ensurdecedor que nos atinge nos momentos de solidão. Coisas que juntas geram um clima de abandono e impotência com a própria vida. Exatamente como eu e milhares de pessoas estamos nos sentindo nesse arremedo de país chamado Brasil. Falido, tomado, sequestrado e invadido por um grupo de justiceiros que resolveram punir tudo que se conquistou em mais de cem anos de lutas e para enfrentá-los, só a união de mãos dadas com as pessoas de bem, muita capacitação e a organização popular, pois nem de justiça dispomos mais.

Para aliviar nossas essências que andam meio desoladas e reprimidas, só sentindo o perfume das flores e caminhando por um jardim imaginário, até a primavera chegar, rumo ao Jardim do Eden. Quem sabe em busca de nossas origens mais primitivas, como se fosse um reencontro com a verdadeira essência humana, onde tudo que desejamos fosse feito apenas por amor e não por mero prazer ou por qualquer conveniência que fosse.

Quando a primavera chegar trará com ela a beleza e o segredo de cada flor, contando de forma sutil a história de cada uma delas e a certeza da esperança de colorir parte do mundo que se encontra sem cor, assim como um brilho natural ao que anda um tanto sem vida. Uma verdadeira revolução silenciosa na natureza, onde cores e perfumes se fundem num cenário propício para uma nova jornada convidando-nos a viver. Um novo cenário com os sonhos e fantasias que ocupam mentes e corações de quem ama a vida.

Algo que nos lembra o prazer de brincar de pipas em dias ensolarados sem ventanias, tomar um banho de cachoeira só para sentir o frescor da água gelada em nossos corpos ou quem sabe degustar pipoca quentinha assistindo em boa companhia bons filmes numa noite de luar e um céu estrelado para completar um momento de felicidade.

A luta diária se confunde com a própria vida. A vida se mistura entre sonhos e fantasias e entre elas o acaso ou destino vai compondo uma canção de ninar para quem ainda acredita na arte de amar e o amor que mesmo de forma escassa vai desafiando os amantes do prazer sem compromissos e os convidando para fazer a vida valer a pena.

Para quem observa a primavera como uma metáfora a ser vivida, existem duas formas de apreciação. Uma dela a partir de um bem cuidado jardim, onde tudo faça sentido, mas que é um privilégio pára apenas um setor da sociedade, e a outra um convite para apreciarmos uma única flor que nasceu de forma desavisada num cantinho de terra, num canto qualquer, mas de beleza igual as todas as outras nascidas e cuidados nos melhores jardins. Um convite para quem tiver sensibilidade para apreciá-la e quem sabe cuidar dela sem a arrancar do pé, até seus últimos dias de vida.

Viver bem é bom em todas as épocas. Sonhar é uma virtude, mas acordar com o pensamento numa determinada flor é o maior presente que a primavera possa nos dar.

Era tão mais fácil se eu fosse um poeta, pois assim teceria essa conversa em forma de poesia, mas como não sou vou terminar esse post recorrendo à primavera e contando as flores que encontrar no caminho para o amanhã.

Que as flores que plantamos ontem e cuidamos com carinho hoje, possam nos dar flores suficientes para nos inspirar a convencer todos aqueles e aquelas que ainda sonham com uma nova sociedade, sem opressores nem oprimidos e sim uma sociedade de iguais, a caminharem conosco para além das nossas imaginações e fazer o que tem que ser feito.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O que é viver por uma causa?

"Luta & Vida Pela Vida"
Ricelle Miranda - Cartunista - Brasília/DF
Criadora da tirinha @monologosconjuntos

Hoje senti vontade de sair um pouquinho da linha das metáforas da vida, que tem sido minha dinâmica nos últimos tempos e voltar um pouco à linha original do blog, que era trazer algumas temáticas para reflexão e a partir delas envolver o maior número de pessoas possíveis em busca de novas reflexões e cumplicidade no enredo tratado. A temática de hoje versará sobre a “Causa”.

O que é uma Causa? O que a alimenta? O que a Causa tem a ver com a missão de vida que cada ser humano traz em seu destino?

Em busca de algum alento diante da grave situação política que estamos vivendo na atualidade, onde a verdade, da forma que a entendemos morreu para muita gente, trago como reflexão alguns referenciais do que seja “Viver por uma Causa”. Algo que pauta as ações, de sonhadores e sonhadoras, no processo de enfrentamento aos desmandos do momento; contra a saga da Casa Grande que pretende aniquilar de vez a Senzala Brasil e nos encoraja para o enfrentamento ao sistema, rumo à construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Uma utopia que nos move e que nos faz cultivamos vários sonhos com a possibilidade de um novo amanhã.

Como parte da minha revolta como ser político a tudo que estamos vivendo, usarei nesse texto o termo “Viver por uma causa” em vez de “militar por uma causa”, onde militar poderia ser confundido como algo derivado do militarismo e portanto não faz parte do meu ideário. Não somos soldados a serviço de uma causa e sim pessoas politizadas e organizadas em busca da construção de uma nova sociedade, contra qualquer tipo de injustiça e no resgate da cidadania sequestrada.

Sempre quando penso em formação ou atuação política, penso antes em buscar compreensão do que seja defender e viver por uma causa. Algo que se constitui muito mais abrangente do que atuar por um partido ou por um segmento da sociedade. A meu ver, uma causa poderia ser explicada como sendo um conjunto de valores que define a forma de relação com determinados setores da sociedade e os enfrentamentos ao que se diverge de forma ideológica, alinhado aos princípios que adotamos como regra de conduta em nossa forma de pensar e agir durante nossas vidas. Ficou complexo?

Uma causa representa ainda o alinhamento político-ideológico de quem a defende, que vai se constituindo em sua trajetória de vida e que poderá se caracterizar na razão da existência de quem faz essa opção. No caso de quem luta à esquerda, uma causa é um caso de amor coletivo, onde o que se deseja é a vitória das diversas lutas organizadas pelos direitos básicos, respeito pelas diferenças existentes e principalmente a conquista do que se move em direção à base da pirâmide econômica, no sentido de elevar economicamente as pessoas que são jogadas nessa direção. Assim sendo, não se concilia com quem explora ou com quem defende quem explora a classe trabalhadora.

Com o passar do tempo e a participação em diversas frentes no enfrentamento aos desmandos dos representantes do sistema, fica mais claro entender o que levou milhares de pessoas a doarem suas vidas pelas causas que defendiam e pelos sonhos da criação de uma nova sociedade onde a qualidade de vida para todos e todas fosse algo natural ao invés da luta pela sobrevivência e os direitos individuais constitucionais respeitados. São pessoas que morreram para defender a democracia, a liberdade, a qualidade de vida e a justiça soberana para todos e todas.

Como uma forma de provocação e de levantar a percepção dos participantes dos cursos que faço a abertura em várias partes do país, pergunto sempre se a causa que defendem ou a luta que estão envolvidos vale a própria vida e concluo dizendo: “Caso não valha tem que ser melhor avaliado”, pois o momento político se caracteriza como uma verdadeira guerra pela destruição completa dos direitos, principalmente das pessoas mais necessitadas e sobretudo das que pensam e agem entendendo para onde estamos caminhando. Essas estão sendo perseguidas, banidas e assassinadas.

Do ponto de vista pessoal, tenho uma tese de que viver por uma causa é fazer tudo que a vida nos oferece por amor. É amar de forma incondicional a vida. É brincar de viver, sendo leal com quem nos segue e acreditar no humanismo que nos move, porém isso não nos limita de enfrentarmos os agentes do caos e seus seguidores e seguidoras, que por convicção, alienação ou mesmo por completa ignorância, se aliam a quem usa o poder em benefício próprio e transformam num verdadeiro inferno a vida de milhões de pessoas que passam fome e todos os tipos de necessidades.

Quem sabe o ato de sair do individual para o coletivo, como apontou um dos grupos da Associação de Construção Comunitária Novo Horizonte de São Bernardo do Campo, ao discutir e procurar uma resposta para a metáfora criada por Paulo Freire no final da década de 80, ao responder a minha pergunta, de como tirar o melhor proveito da luta encampada pela nossa entidade por habitação, seja o caminho para a transformação necessária rumo a tão sonhada sociedade a ser criada.

Ao buscar uma finalização para esse texto, se faz necessário que eu diga que a causa que me move ha muito tempo, não foi plantada por alguém por qualquer interesse e sim nasceu das sementes vindas comigo das sertanias da vida como imigrante da cidade de Belo Jardim - PE, regada pela chuva e o frio insistente de São Bernardo do Campo onde viemos parar e cultivada com os enfrentamentos desde cedo contra a discriminação por ser nordestino, pobre e de família muito humilde. Aprendi na prática o que é luta de classe e quem são os agentes da Matrix.

Paulo Freire terminou a nossa conversa que tivemos em 1989 me dizendo: “O que move o ser humano são seus sonhos e o que alimenta esses sonhos é a utopia de sabermos que viemos ao mundo para servir e que podemos exercitar isso na medida em que essa utopia se torna a nossa missão de vida.”. Depois daquela conversa nunca mais fui o mesmo e transformei essa utopia na razão da minha existência.

Aqui estou destino. Faça hoje de mim instrumento das melhores notícias que possam colorir o amanhã e que minha disposição de luta por uma vida digna para todos e todas seja minha eterna companheira junto com as pessoas que quero bem.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


Salve Ricelle Miranda a nova parceira do Blog Gestão Pública Social.

domingo, 11 de agosto de 2019

Do que será feito o amanhã?

Andrelândia, uma cidadezinha do interior de Minas foi a responsável por uma grata surpresa no final da aula Inaugural de mais um curso da Fundação Perseu Abramo, e, me brindou com algo surpreendente. No encerramento Maria Luísa, uma psicoterapeuta que participava do curso, deu um depoimento que me deixou emocionado. Disse-me doces palavras, elogiando como conduzi a minha fala, a qual abordava alguns aspectos dessa difícil conjuntura, além de apresentar o curso e o sistema usado pela Fundação.

Entre outras coisas, Maria Luísa me disse: que eu consegui transitar pelos diversos momentos dessa dura realidade que vivemos, expondo nossas tarefas de forma clara, sem perder a ternura, que ela se sentia privilegiada por estar ali e ouvir tudo que falei. Um dos momentos mais lindos que tive nesse trabalho da Fundação Perseu Abramo.

Depois de um abraço carinhosos agradeci aquele mimo e lhe disse que ela tinha sido responsável por eu ter ganho o dia, a semana e o mês. Viver é isso! Fazer com emoção o que acreditamos de fato e viver cada momento, como se não houvesse o amanhã.

O que isso tem a ver com o tema do post? Depois de viver essa emoção, passei a acordar disposto, a pintar um amanhã com cores alegres para que meu hoje possa enfrentar as diversas curvas que a vida dá, muitas delas sem aviso prévio, criando novos caminhos que permitam a vida fluir de forma mais objetiva e prazerosa. É muito bom ser notado e melhor ainda ser valorizado.

Gosto de escrever sobre a Linha do Tempo. Brincar com o que há de possibilidades. Farei algumas incursões sobre o amanhã. Algo inesperado, mas também muito esperado. Como será o amanhã? Do que será feito o amanhã? O que queremos do amanhã?

Do ponto de vista da humanidade, o amanhã é apenas uma aposta; porém como ficaria o hoje sem os sonhos do amanhã? Como preencheríamos nossas divagações diárias, se não tivéssemos a coragem de sonhar, mesmo sabendo que muitos sonhos são apenas fantasias e provavelmente nunca acontecerão?

O amanhã, ao mesmo tempo em que é algo incerto por não termos controle algum sobre ele, pode ser algo tão possível de acontecer, desde que estejamos ainda por aqui e nossa relação com o futuro esteja focada no que deu certo até hoje, com alguns cuidados com o que tomou outro caminho na vida e viver o melhor hoje que pudermos construir. Para isso às vezes só necessitamos pegar na mão de alguém que queira estar conosco e seguirmos juntos em frente sem medo de ser feliz. A partir desse contexto, o presente passa a ter outro significado.

Para quem se encontra preso - ou presa - na bolha do tempo, seja no passado ou no presente, o amanhã nem existe. Em seu lugar há uma negação constante dos possíveis passos futuros, que na prática, vão evitando compromissos para o amanhã. Pensar no futuro requer sonhos, fantasias, utopias e vontade de fazer o melhor hoje que puder para quando o amanhã chegar ter flor e poesia para colorir a travessia que o tempo permitir.

Para aliviar a incerteza, repetimos o mantra: “Amanhã será um novo dia”. Com certeza será. Porém, uma das dúvidas que paira no ar é saber como estaremos nele e ter fé para que estejamos. É obvio que não há certeza alguma do que possa ocorrer amanhã, porém se fizermos nossa parte pensando de forma positiva o que queremos que aconteça e um mínimo de planejamento mental, as coisas irão acontecendo naturalmente e quando menos se espera, o que sonhamos para o amanhã estará prestes a acontecer.

Faço parte de uma geração de sonhadores e sonhadoras que ousaram desafiar o presente e o passado sombrios da época e lutamos com as armas que tínhamos, por um amanhã numa sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, e, continuamos a sonhar e a lutar. Essa sociedade foi construída? Ainda não, e, pode ser que nunca seja. Porém isso não nos rouba os sonhos de acreditar que amanhã será um novo dia e tudo poderá acontecer. É essa utopia que alimenta nossas missões e nos faz caminhar, principalmente quando descobrimos que dedicar-se a uma causa é um ato de amor.

Sinto uma grande parte da população conduzida apenas pelo racional, gerando e praticando várias situações sem amor algum, ou por puro instinto ou por provocação e negação a um sentimento tão nobre, que aos poucos se esvai para esse setor da sociedade. Ao pensarmos nisso temos a impressão que o romantismo da vida está em plena crise, porém para uma grande parte da sociedade o romantismo nunca morrerá. Seja o que for, temos muito a fazer para que não morra a esperança de um amanhã, onde as palavras de ordem, para qualquer situação sejam: “Amar porque amar vale a pena”.

Quem sabe o amanhã seja gotas de orvalho que surgirão nas caminhadas da vida e nelas, dependendo da situação, vamos saboreando o visual da natureza, as ladeiras e uma réstia de sol que desponta no alto das nossas imaginações.

Uma coisa é certa. Só saberemos o sabor do amanhã se tivermos a sorte para desafiarmos o tempo e com ele semearmos o que nos faz feliz, que é única forma de nos sentirmos humanos novamente, e, apostarmos que o melhor será quando descobrirmos que a vida só faz sentido, quando tudo que fizermos o amor estiver presente.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

quinta-feira, 18 de julho de 2019

O que há nas curvas de um rio?

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Há algum tempo venho escrevendo sobre o cotidiano da vida e a partir de um campo de introspecção, buscando também atender meus diversos momentos e minhas inquietudes naturais. Seguindo essa linha e buscando um roteiro que prenda a atenção de quem lê, o desafio de hoje é construir uma narrativa sobre o ato de viver, usando algumas figuras de linguagem bem conhecidas.

Apesar do frio, acordei pensando nos banhos de rio que tomava no sítio onde nasci nos arredores da cidade de Belo Jardim, PE, junto com meus primos. Uma doce lembrança de momentos que não voltam mais, mas continuam tão vivos em minha mente, que parece que foi ontem.

Ao pensar em um rio, penso também em suas curvas, onde se escondem o que a correnteza não teve condições de levar e só depois de uma forte chuva para que ele volte ao seu curso natural. Lembrando que em tempos de tempestades as águas agitadas do rio leva tudo o que encontra pela frente. Assim também é em nossas vidas. As vezes temos a sensação de estarmos presos nas curvas que a vida dá e precisando de uma mudança radical ou de um grande incentivo para que novamente possamos seguir de forma natural na caminhada da nossa existência. Porém, se a tempestade for longa, precisaremos de muito mais para que a vida volte ao normal.

Em tempos de crises os problemas tendem a aumentar e nossa visão de solução encurta, pois as vezes é o imediatismo que comanda as decisões e isso nos deixa em alerta permanente, pois é sinal que não conseguimos organizar nossas demandas em o que é necessário, importante e urgente e tudo passa a ser urgente. O que fazer em situações como essa? Creio que o melhor caminho seja avaliar o que passou, reforçar o presente e mirar no futuro, a partir de uma Plano de Ação.

Como é impossível voltar no tempo para reviver seus momentos, vou mudando meu pensamento para uma cidadezinha florida de nome Urbano Santos no Maranhão, onde passa um rio ainda sem poluição e que nos deliciamos nele após um curso da Fundação Perseu Abramo e depois do lazer no rio almoçamos num restaurante construído à beira de um Igarapé, vendo os peixes ao nosso lado. Uma extrema beleza que me alimenta em pensamento até hoje. Um passado mais recente, que me permite voltar num futuro próximo e reviver mais um dia de sol com os pés numa água cristalina.

Usando a figura de linguagem de um rio, imagino a vida como um rio que deságua no oceano da nossa existência e leva com ele tudo que construímos, fragmentos do que não fizemos ou ainda as vitórias e derrotas ocasionadas pelas nossas escolhas. Um percurso finito, porém de uma beleza sem igual para quem sabe viver e quem faz da vida um cenário perfeito para compor nossas histórias.

Caro destino calma aí. Primeiro vamos arrumar cuidadosamente as malas e depois estudamos o caminho e que rio vamos navegar. Nasci no Bitury, andei pelo São Francisco, sonhei no Tapajos e velejei por horas a fio pelo Amazonas até Cametá, Gurupá e Almerim. Um mar d'Água capaz de afogar qualquer mágoa e nos trazer perspectivas para os sonhos futuros. Quem sabe o brinde especial tenha sido o arco iris que me esperava ao chegar em Santarém ou ainda uma leve garoa nas serras baianas que me fez lembrar de São Paulo da garoa. Como esquecer do que me guardava e aguardava uma periferia do país? Encontrei por lá o que não procurava e me fiz sujeito da história.

Estou numa época de balanço de vida. De ouvir muitas vezes a música do meu sambista predileto Paulinho da Viola e sua inconfundível música “Foi um Rio que passou em minha vida”. Uma viagem percorrendo o passado, vivendo intensamente o presente e sonhando em enxergar um futuro com as cores da esperança, das conquistas pessoais e coletivas e do amor incondicional pela vida, que se desenha em cada manhã que se inicia nos dando boas vindas ao dia que virá.

O que é a felicidade? De que se compõe a felicidade? E se olhássemos a felicidade como um rio? Águas que se renovam com momentos de renovação. Quem sabe a felicidade esteja onde nossos pensamentos estiverem? Ao falar nisso, penso numa frase que li certa vez de Danielle Gomes: “Se você encontrar o rio da felicidade, se afogue nele”. Entendendo o se afogar como um ato de curtir ao extremo o encontro com a felicidade. Ser feliz é um estado de espírito e manter a felicidade um exercício permanente, que requer antes de tudo habilidade e muita sabedoria.

Para quem navega pelas águas dos rios da vida pode-se considerar um ser em permanente viagem. Uma junção de certezas e incertezas, de ser ou não ser, mas em curso com os momentos que a vida proporciona. Um pingo de amor em peitos que pulsam por querer muito mais. Viver é isso!

Somos as vezes o ponto de luz para quem nos acha e em outras procuramos essa luz e não a encontramos. Porém o que nos faz caminhar é descobrir que podemos ser a saga de estarmos vários passos à frente de quem se entrega à vida e não consegue enxergar o amanhã. Que venha o amanhã, pois o que tínhamos de fazer para que desse certo fizemos hoje até o pôr do sol.

Bom mesmo é viver pensando que a vida seja aquela viagem de rio sem curvas, feita em dias de sol e à luz do dia, onde as belas paisagens da natureza se misturam aos nossos pensamentos e juntos nos dá a certeza de que a vida existe e o melhor ainda está por vir.

Rio abaixo sou rima. Rio acima poesia. Rio afora sou o conto inacabado à procura de quem venha e me faça companhia e escreva junto comigo um capítulo a quatro mãos da minha história de vida.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Ontem eu acordei pensando no amanhã

Em busca de mais uma temática que chamasse a atenção de quem lê, me deparei com um título sugestivo, que de alguma forma me permite dialogar sobre a Linha do Tempo entre o Ontem e o Hoje, pensando no Amanhã. Um percurso de vida que nos coloca à prova em várias situações. Particularmente tenho tentado entender como as pessoas enxergam essa transição do tempo (Passado, Presente e Futuro) e como se organizam para o próximo passo, muitas vezes sem sonhos e sem nenhum Plano de Ação.

Pessoalmente sinto que nesse momento da vida me encontro nas reticências que criei. No ponto de convergência entre o ser e o não ser. Quem sabe sobrevoando uma área da minha existência que não tinha o menor conhecimento, em busca de referenciais, de algumas convicções e principalmente de motivação que me faça subir a colina da vida em busca de novos ares, revendo alguns valores e buscando segurança para as minhas decisões para o amanhã. O amanhã é incerto? Será muito mais se eu não o planejar.

Alguns autores partem do princípio de que tudo acontece a partir do agora, do hoje, ou seja, do presente que é onde se vive intensamente, que o passado não se muda e que o futuro é o que ainda virá de forma incerta, o que é um fato. Porém, indo para uma discussão mais profunda e pensando como alguém de planejamento, entendo que o hoje (presente) é o resultado do que foi planejado e realizado ou não no ontem (passado) e só terá um amanhã (futuro) perto do que se espera, caso se esteja ainda nessa dimensão, se houver um planejamento mínimo para as ações do amanhã a partir do hoje.

Nesse contexto, sonhos e fantasias emolduram nossas mentes e na nossa imaginação podemos ser o que queremos ser, mas na prática só com muita ousadia. Porém, se não ousarmos avançar a vida vai subtraindo os dias que temos e acabamos no ontem. Não existe futuro para quem ancora sua vida no hoje. O futuro se encontra no jogo da vida.

Porque negar a sedução pelo futuro? Porque viver só o hoje? Porque não projetar sonhos e fantasias que se misturem ao hoje para colorir um cenário incerto, mas desejável?

Minha grande pergunta do momento é o porque de uma parte da população viver apenas no presente, como se a vida fosse eterna, presa ao passado e negando a existência do amanhã. Uma situação bem cômoda para quem a vive, pois evita que se façam planos, que se criem perspectivas futuras e principalmente se faça um planejamento de vida.

Além disso, a tese da vida presente é algo muito interessante, pois não se pauta por compromissos futuros, simplifica possíveis atropelos e evita também sentimentos de dor ou ansiedade por algo que não se projetou. Uma visão simplista que transforma quem pensa e age assim em seres sem sonhos. Quem sabe seja por essa falta de sonhos que a sociedade atual vive uma de suas maiores crises de identidade. O bem e o mal convivendo lado a lado e produzindo o imediatismo e as compensações pessoais, tragando a possibilidade das pessoas entenderem qual é a missão enquanto vida.

Na radicalidade dos fatos, as grandes batalhas, as revoluções ou as revoltas populares e até os golpes, todas elas e eles são e foram projetados e planejados no ontem, vividos no hoje, com metas claras para o amanhã e com a necessidade de avaliações futuras.

A utopia é um estado de espírito que nos remete ao futuro. Nesse sentido, me chamou a atenção um texto de Sonia Terezinha Felipe: “O conceito de utopia na proposta Paulofreireana”, que faz uma viagem no universo sonhador de Paulo Freire e nos traz várias reflexões, entre elas essa a seguir:

No sentido não pejorativo de fantasia, a utopia é uma construção mental que apresenta um mundo diferente onde se efetiva a felicidade humana. Tem um caráter de "antecipação" que as vezes chega a ser realizada não completamente, outras vezes não se realiza nem parcialmente. Fantasiar é criar um sistema de pensamentos que estão mais além da realidade e a sobrepassam. Existe um vácuo, porém, entre esta construção mental que vai além da realidade e a tentativa de instaurar a mudança pensada”.

Quem sabe esse vácuo que a autora se refere não esteja nas dispersões, nas viagens mentais sem assumi-las, na falta de compromisso para assumir as mudanças ou ainda projetar algo sem planejar. Sonho e fantasias fazem parte do universo humano, porém um sonho, diferente da fantasia, tem metas envolvidas, cenários diversos e o compromisso de se chegar bem perto do que se planejou. É claro que a vida não nos dá certeza de nada, mas temos o livre arbítrio das escolhas dos caminhos a seguir e são esses caminhos e essas escolhas que acabam refletindo o que pensamos e como agimos ou não. Futuro é sonhar em viver. É andar de mãos dadas hoje sem medo do amanhã.

A vida é uma passagem. Uma vereda que vai se estreitando ao longo do tempo. Alegrias e tristezas vivem a se confrontarem. Amores e desamores contam nossas histórias. Portas entreabertas que necessitamos fechar. Valores irreais e tentações circundam a imaginação de quem não se prende a nada e acha que isso é ser livre. Enfim, quem somos? Somos o que achamos ser ou alguém com vontade de ser o que já foi?

Sonhar é viver e viver é sonhar. Vida que te quero vida. Vida que se constrói a cada dia. Vida que nos possibilita errar e aprender, cair e levantar, com a esperança de que o amanhã poderá ser diferente a partir da nossa percepção de aprender, crescer e mudar.
Ontem eu brinquei de ser artista, de ser cantor e até de ser poeta. Como faltaram pernas e talento para continuar a viagem rumo às realizações pretendidas, fiquei quietinho no meu canto e hoje brinco de ser escritor e sujeito da história.

Quem sabe amanhã eu possa brincar de ser um sábio, onde ao cair da noite eu possa deitar em meu travesseiro e sonhar com um mundo onde caiba todos os desejos possíveis de pessoas que transformam o amor numa entidade divina, capaz de iluminar os caminhos de quem não consegue partilhar e nem compartilhar esse sentimento que tem poder de transformar o mundo. Salve todas as formas de Amar!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social


quinta-feira, 27 de junho de 2019

O que mantém as pipas no ar?


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Como um saudosista, que acumula erros e acertos na vida, poderia simplesmente afirmar que já não se pipa como antigamente, visto que os tempos e os valores são outros e principalmente as pipas já não são mais as mesmas, pois vêm agora em novo estilo. Porém, é bom que se diga, que se o amor pelo ato de pipar for o mesmo, não há tempo, espaço ou lembranças pelo que não deu certo quando pipávamos no passado, que confundam a cabeça e o coração de quem enxerga numa pipa a continuidade do desejo pessoal de voar rumo ao infinito de nossas emoções e realizações.

No universo do ato pipar, o espírito de liberdade aflora quando sente que há uma perfeita sinergia entre um ser com uma pipa na mão, o clima necessário para fazê-la subir, o tempo de construção da relação de identidade e a pipa no ar, que vai desafiando o universo em busca da linha do horizonte.

Ontem eu sonhei pipando e acordei com uma vontade imensa de fazer isso de verdade e logo hoje que amanheceu um céu lindo e um sol de encher os olhos de quem não gosta de dias nublados.

Observando os dias de hoje, é possível afirmar que pipar está fora de moda? Ou só pipa quem é apaixonado pelo ato de viver e usa o ato de pipar para colorir o universo? Dá para pipar sozinho? Que graça tem nisso? Seja como for, pipar rompeu o tempo passado chegando ao presente, mesmo que de forma tímida diante de tantas brincadeiras tecnológicas à disposição de quem pipava, porém ainda se mantém vivo e com energia suficiente para seguir futuro afora, com as rabiolas desembaraçadas, sem cerol nas linhas e desafiando a lógica de que só se pipa em dias ensolarados.

Pipar com classe e com estilo exige planejamento para a elaboração de uma ação presente, que é a construção da pipa e para uma ação futura que é pô-la no ar, entendendo o futuro como qualquer segundo depois do agora, até o infinito de nossas existências ou enquanto vida tivermos. Essa necessidade organizativa só existe para quem já tomou a decisão de pipar, fazendo planos no presente em busca do melhor futuro que vier e criando perspectivas para que essa gostosa brincadeira possa ter o melhor resultado possível, sempre tendo em mente o respeito e o carinho por quem estiver junto pipando e o amor incondicional pelo ato de pipar.

A decisão de escrever mais uma vez sobre esse tema veio pelo simples fato das pipas continuarem no ar, desafiando as adversidades e as histórias mal ou bem resolvidas de quem pipa. Algo que exige atenção, carinho e muita dedicação para mantê-las sempre lá, sobretudo paciência, pois se o vento estiver contra não há como fazer subir uma pipa ou fazê-la permanecer no ar.

Diante do exposto, vem uma importante pergunta: o que é pipar? Ao buscar uma resposta sensata, estaremos indo de encontro ao mundo físico onde pipa, linha e carretel formam os ingredientes necessários, porém junte-se a isso o prazer, os desafios constantes, a imaginação que voa junto e os desejos de realizações contidos quando se pipa. Pipar é arte, é fantasia, é uma doce brincadeira, é ação concreta e junto com isso a busca incontida de que tudo seja como um dia viemos a sonhar.

Uma séria brincadeira que nos leva em imaginação muito mais longe do que nossas limitações alcançam e impõem. Pipar não é apenas o evento de soltar pipas, mas um conjunto de fatores que nos levam ao exercício de pipar, onde um amplo conhecimento do ambiente se torna essencial.

Pipar para algumas pessoas é apenas um eterno passatempo, ou mais uma brincadeira em busca de prazer, mas pensando bem, pipar exige de cada pessoa que nela esteja envolvida, atenção, carinho, apego, coragem pelos desafios, determinação em busca de seus objetivos e principalmente saber onde se quer chegar pipando. Pipar não é competição de ganha ou perde, mas um ato de pura beleza e leveza, onde quem estiver envolvido sacie sua vontade, mas esteja preparado para o próximo ato.

Tem vezes que o vento não ajuda ou chega uma ventania indesejada. Em outras as rabiolas embolam e ainda em outras chega alguém e leva nossa pipa embora. Porém, quando menos se espera algo de extraordinário acontece. Parece até que a natureza conspira para que tudo ocorra em perfeita sintonia entre quem quer pipar, o ar, o sol e principalmente o firmamento que dá um colorido especial com as pipas, lado a lado riscando o céu.

Lembro-me bem que já fazia muito tempo que eu não pipava e num daqueles dias de pura distração dei de cara com uma linda pipa que caiu ao meu lado e não tive dúvidas em levar aquela joia rara para o meu universo. Alguns ventos e ventanias após, uma noite estrelada e um longo sonho, tomei a decisão de que na manhã seguinte, caso estivesse sol, eu após anos, voltaria a pipar. E assim foi...

O que mantém as pipas no ar é a magia do momento. É um clima bom e um vento favorável. É o amor pelo ato de pipar, além da disposição e vontade de quem pipa, de querer continuar com essa gostosa brincadeira, pulando os obstáculos, vencendo os desafios e enfrentando as adversidades que possam ocorrer, principalmente a partir da crença de que o melhor clima e horizonte para as pipas continuarem no ar, ainda estão por vir.

Que a minha vontade de pipar nunca cesse, pois ela é a certeza de que existe dentro de mim um coração que pulsa acelerado só de lembrar que sempre é tempo de uma gostosa brincadeira que nos faça lembrar que a vida segue e que podemos aproveitá-la brincando só pelo prazer de viver.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

domingo, 16 de junho de 2019

A verdade existe? De que verdade estamos falando?


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A existência de um espaço livre para minhas andanças filosóficas e existenciais, se tornou ao longo do tempo um refúgio, um encontro, uma busca e principalmente um voar com as asas da liberdade para escrever o que gosto. Escrever um texto é como esculpir uma figura humana num rochedo. Vamos encontrando seu formato e sua feição durante o processo de criação. Um texto só faz sentido se for capaz de envolver os sonhos e as fantasias de quem lê e ganhar esse leitor ou leitora para os próximos capítulos.

O desafio pessoal de hoje, ao me situar no contexto da vida e na convivência com pessoas que pensam próximos ao que penso e outras tão longe da minha natureza, é divagar e abstrair sobre ao que chamamos de “verdade”, passeando por alguns de seus formatos e interpretações e buscando apoio na filosofia. Algo desafiante e complexo.

Há pouco tempo participei como convidado de uma oficina num grupo filosófico de São Bernardo do Campo, onde o tema principal era a discussão do Livro: “A Morte da Verdade”, da escritora norte-americana (de origem japonesa) Michiko Kakutani, jornalista e escritora, crítica de literatura do “New York Times” por longo tempo.

Em regras gerais, o livro traz as diversas inquietações sobre a vitória de Donald Trump, como foi arquitetada essa vitória e os bastidores da política americana da atualidade. Algo que sai do espectro da democracia e caminha a passos largos rumo ao fascismo. Vale ressaltar que estamos falando de alguém integrada ao sistema, porém incomodada com todas as alterações que a vitória de Trump proporcionou para a visão de democracia que tem, principalmente da democracia representativa, onde Trump não lhe representa.

De fato é um assunto pra lá de inquietante, pois segundo a autora, existe um universo novo repleto de teoria da conspiração, mudanças culturais preocupantes que intervém no mundo científico e caminham pelo mundo acadêmico, destruindo os avanços em prol da humanidade e cada vez mais fortalecendo o mundo material (a serviço do império).

Não por acaso, vivemos essa dura realidade aqui também no Brasil. A eleição do presidente atual foi moldada com os mesmos ingredientes que a de Trump. Uma indústria do que se chama de fake news invadiu tanto a eleição de lá como a de cá. O objetivo principal de ambos, lembrando que se aproximam muito um do outro em termos de visão de mundo, a meu ver, era dizer que a verdade morreu e uma nova verdade estava nascendo com um tom verde-amarelo e um pato laranja comandando o espetáculo.

Perante a filosofia, verdade se estabelece a partir de um conjunto de valores, advindos das nossas crenças, vivências e princípios e passando necessariamente pelo universo ético e moral de uma sociedade, a partir das diversas visões de verdade que cada indivíduo vai encontrando e construindo. Somado a tudo isso, a ideologia vai formando o percurso das nossas caminhadas a partir das nossas verdades, com quem vamos e o que pretendemos como resultado final em termos de qualidade de vida. Além disso, a incômoda verdade tida como oficial, que transita governos afora e vai criando um caldo de cultura, sem nenhuma consistência política por falta de entendimento da maioria do povo.

Enquanto o relativismo moral traz a visão e os conceitos da verdade de determinado grupo social, que a meu ver foi o grande embate nas últimas eleições, o dogmatismo tem a pretensão de mostrar a verdade como algo absoluto, embora seja pra lá de complexo entrar nessa discussão, pois se partirmos, por exemplo, das religiões, que cada um ou uma tem a sua, voltamos novamente ao relativismo moral, a partir das influências dos diversos grupos religiosos, que foi a tônica principal nas últimas eleições por aqui.

Ao buscar o conceito de verdade em alguns pensadores, nos deparamos com uma grande diversidade de interpretações e teses sobre o assunto, da afirmação à negação. Longe de querer me enveredar sobre as diversas linhas filosóficas sobre o assunto, mas apenas de trazer algumas impressões como apoio geral ao texto.

Para Platão a verdade precisa sempre ser buscada, pelo fato de não ser algo concreto e muito menos palpável. Segundo ele aplicava-se primeiro ao objeto, ou ao sujeito e depois ao que se propunha a ser.

Enquanto para Sartre (Jean Paul Sartre – 1905-1980), a verdade está na essência do indivíduo, pois é resultado dos valores de uma sociedade, Nietzsche (Friedrich – 1844 – 1900), ao fazer duras críticas ao pensamento clássico, afirma que a verdade não existe.

Por outro lado, Foucault (Michel Foucault – 1926-1984) afirmava que para algo seja considerado como verdade, necessita ser livre, sem vínculo a uma institucionalização, caso contrário será manipulado e gerará constrangimentos e formas de comportamentos.

Pondo um pouco mais de lenha na fogueira do que estamos discutindo, uma pergunta que não quer calar: O amor é uma verdade absoluta? Caso seja, como podemos conceituar se esse amor não for correspondido? Continua sendo?

Uma das coisas que me fez ter vontade de escrever sobre um assunto tão complexo, foi imaginar como lidamos com as nossas verdades. Até que ponto não tentamos impô-la diante das nossas contradições? Como enfrentamos a verdade alheia, muitas vezes fantasiada de conhecimentos, mas que em muitos casos não passa de pura arrogância?

Apenas como reflexão, quero crer que se as nossas verdades estiverem repletas de sonhos, de vontades infinitas de servir e ter a solidariedade como ideologia maior, versamos sobre a verdade a partir de um universo plural, defendendo que os de baixo tenham vez e o enfrentando os de cima, todas as vezes que se apoiarem na base da pirâmide para tirarem proveito. Essa é a verdade de quem busca o bem comum.

Que minha verdade possa soar na vida de quem eu quero bem apenas como algo a ser pensado e não imposto e que ao longo da caminhada possa vir a se tornar uma só verdade e quem sabe ao praticá-la, possamos juntos considerá-la uma verdade absoluta.

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social


terça-feira, 4 de junho de 2019

O silêncio é um vazio ou um refúgio?


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O ato de escrever para mim nos dias de hoje representa um pulsar das minhas inquietações, uma viagem ao universo da minha existência e minha melhor terapia. Um diálogo com meu outro eu, que de vez enquanto sentamos para conversar.

Por várias razões particulares fiquei alguns dias ausente do Blog e nesse retorno, com base em algumas inquietudes e depois de conversar com algumas pessoas sobre o assunto, resolvi escrever sobre o silêncio e seus efeitos, principalmente pelo fato da maioria das pessoas lidarem tão bem com ele e eu normalmente me sentir sempre incomodado.

Como definir o silencio? De que silêncio estamos falando? O silêncio é um vazio interior que acaba escoando para a vida ou um refúgio em busca de reflexão?

Como um ser incompleto, já citei em outros textos, que não gosto de dias nublados e carrancudos, do barulho incômodo do silêncio e tampouco da escuridão. São ambientes e sensações que me fazem retroagir ao invés de avançar. Nasci para a lida e para viver a vida, mesmo com encontros e desencontros, mas não para a solidão e todos eles me fazem pensar em momentos solitários.

Qurm sabe o incômodo da escuridão esteja ligada às diversas formas de medo que vivi em minha infância e o do silêncio a tudo que não consegui conquistar até o momento em minha vida...

Do ponto de vista das relações humanas, creio que o convívio com o silêncio esteja ligado a personalidade de cada pessoa, pois ao mesmo tempo que para algumas pessoas representa apenas um refúgio  para se recompor, como algo até romântico, para outras pode significar uma ação ou reação, uma forma punitiva por alguma razão ou mesmo não ter interesse de ampliar a relação com outra pessoa. Nesse caso o silêncio fere.

Pessoalmente encaro o silencio sob dois pontos de vista. Primeiro que quando não me sinto confortável ou à vontade, ou ainda acuado em determinadas situações, minha primeira reação é entrar em profundo silêncio em busca de como agir e a segunda é ficar incomodadíssimo quando sinto que o silêncio é uma resposta ou uma punição à minha forma de pensar e agir. Nesse caso ajo e reajo por me sentir sujeito da ação silenciosa.

No geral o silêncio vai muito além da ausência de palavras, podendo significar um sim ou um não, uma indiferença ou um cuidado para não machucar. Em alguns momentos arrogância e em outros humildade no trato com a adversidade.

Em outras situações o silêncio pode significar ódio ou amor. Sentimentos tão próximos e parentes do carinho e do desprezo, onde uma luta permanente interior acaba revelando quem somos, com quem convivemos e o que estamos construindo para o futuro.

Seja o que for, o silêncio acaba sendo o texto e o contexto de um enredo, que se bem trabalhado poderia representar o antídoto para as divagações que a vida nos oferece, mas em geral se transforma numa fuga do que poderia ser.

Em regras gerais, o silêncio pode ser tudo que quisermos que ele seja. Saudade, remorso, reflexão, punição, fuga, ou um momento de andar pela nossa existência em busca de entender com quem convivemos. Enfim, o silêncio expressa o que a mente busca e o coração sente, assim como pode ser uma reação das nossas relações mal resolvidas ou daquelas que precisamos calar para entender o que o futuro nos oferece.

Silencie quando necessário, mas nunca use o silencio como uma arma para afetar a consciência alheia, pois nunca se sabe o que pode ocorrer, quando o sol se por e chegar o raiar de um novo dia.


Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social

terça-feira, 23 de abril de 2019

Qual utopia nos move?


" Nada do que foi será,  de novo do jeito que já foi um dia... " (Lulu Santos)

Partindo dessa premissa, faz-se necessário tecer breve comentário sobre qual modelo de política nos forjamos e nos propomos pactualmente a fazer, pois  o que nos moveu utopicamente outrora, já não  move muitos dos nossos nessa plataforma ideologicamente falando. Nota-se que outros caminhos, outros atalhos fizeram com que no limiar desse percurso, pudesse rever conceitos, preceitos e práticas motrizes que nos abduziam a pensar uma sociedade mais igual e mais decente.

Tudo isso, aqui mencionado, advém de um imbricamento de projeto de vida da boa política, a qual fomos protagonistas. Todavia, esse caminhar por atalhos pedregosos, espinhosos e rasos, levou nossos sonhos a deslocar- se da sedimentação "massapenta" para um terreno baldio, onde nossos passos, já não dão a mesma liga que nos sustentou e nos manteve de pé.

Sendo assim, caberia um olhar nosso mais acurado de maneira que pudéssemos rever nossa trajetória e com isso, repensar a liga que constrói pontes ao invés de muralhas!?
É tempo e há tempo de dar tempo ao tempo e de sabiamente reconectarmos com o chão que brotamos para que assim, seja possível reolhar o horizonte que nos espera.
Por fim, "Não temos nada de novo, o que temos de novo, é o jeito de caminhar."  (Thiago de Melo)

*Jivaldo Oliveira é Professor da Rede Municipal

Coordenador Pedagógico da Rede Estadual
e Especialista em Educação/Gestão Escolar.


sábado, 6 de abril de 2019

Eu estava lá e também chorei junto com milhares de pessoas...


Foto de Francisco Proner Ramos

Amanhã completa um ano da prisão de Luís Inácio Lula da Silva. O brasileiro mais discutido no mundo na atualidade, inclusive indicado oficialmente para o Prêmio Nobel da Paz, através de uma prisão arbitrária e questionada por centenas de juristas de várias partes do mundo, que o torna no primeiro preso político, com reconhecimento mundial, após a famigerada ditadura militar de 64, quando ele também foi preso por defender a classe trabalhadora e tivemos a felicidade de festejar junto com ele o dia da sua liberdade.

Resolvi escrever sobre esse incômodo assunto, primeiro por eu ser uma das pessoas que o acompanhou em sua trajetória de luta desde o inicio em São Bernardo do Campo e segundo pelo fato de estar lá naquele dia fatídico da sua prisão, após três dias de acampamento coletivo e uma pequena resistência mal organizada no final. Ninguém queria que ele se entregasse, mas no final foi feito o que ele decidiu, mesmo a contra gosto de centenas de pessoas que resistiram até onde puderam e vimos Lula ser conduzido pelos policiais federais rumo à Curitiba, ficando uma sensação de derrota estampada em nossos rostos.

Não é novidade para ninguém que o país está divido pelo ódio politico e Lula tem muito a ver com tudo isso, pelo simples fato de sempre ter escolhido um lado para atuar, além de ter feito os dois melhores governos que a país já viveu. Para sustentar essa onda de ódio, a politica que deveria ser discutida como uma ciência e como um instrumento que pauta e aponta para os interesses de classes no Brasil, é negada e foi abruptamente distorcida, de forma proposital para que as pessoas desinformadas a odiassem e repetissem o mantra, que todo político é ladrão e politica é uma coisa ruim. Exatamente o que o sistema e a casa-grande desejam. Um povo manso e mal informado.

O resultado de tudo isso são problemas de toda ordem que levarão décadas para se resolver, inclusive do desafio de organizar uma unidade com os setores e partidos de esquerda, que é um sonho antigo, além dos organismos que nasceram para defender os interesses dos trabalhadores, que sempre estiveram divididos. Como explicar para um trabalhador ou uma trabalhadora, leigos na política e em seus direitos, que existem oito Centrais Sindicais para defendê-los? Não deve ser uma tarefa das mais fáceis.  

A cidade de São Bernardo do Campo, onde Lula nasceu politicamente, foi palco de uma verdadeira revolução político-trabalhista no final da década de 70 e começo da década de 80, que concentrava os famosos “Metalúrgicos do ABC”, com grandes passeatas e concentrações e também muita repressão policial, principalmente após a interdição do Sindicato dos Metalúrgicos e do Estádio da Vila Euclides, hoje chamado de Primeiro de Maio, onde acontecia a maioria das assembleias.

Lembro-me bem do meu pai e eu acompanhando a maior parte das passeatas e as assembleias aos domingos, principalmente para ouvirmos os discursos daquele sindicalista que começava a fazer história e incomodar os detentores do poder econômico nacional e até internacional. Um cenário que passou a fazer parte da história de lutas dos trabalhadores no Brasil, como um dos capítulos mais decisivos para uma nova forma de política no país, após a ditadura militar.  

Porém, de tudo que vivemos no cenário das lutas desde as grandes greves, iniciada pelos metalúrgicos da Scania em 1978, até os dias de hoje, aquele sete de abril ficou marcado em nossas mentes como um dos dias mais tristes em nossas vidas. Um dia que pude observar e chorei junto com milhares de pessoas, ao nos despedir de Lula, sem saber o que ia ocorrer depois.

Jamais imaginávamos que aquele dia reservaria mais um capítulo sombrio no processo político e de luta do país, pois já se passaram doze meses e ninguém sabe avaliar ao certo qual será o resultado final de tudo isso.

Ao escrever esse texto, faço com ele a minha homenagem nessa data que não pede comemoração e sim um dia de revolta em favor a essa grande liderança popular e dizer em alto e bom tom: AQUI ESTIVE E AQUI ESTAREI PRESIDENTE, para junto com milhares de pessoas que lutam por uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas, continuar lutando também pela sua liberdade. LULA LIVRE JÁ!

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social

sexta-feira, 29 de março de 2019

A vida pode ser uma miragem para se apreciar ou um romance para se viver...


Uma das formas que gosto de me referir à vida, é como um eterno carrossel. Vamos girando às vezes meio sem destino e nem nos damos conta de que passamos pelo mesmo ponto da vida diversas vezes durante nossa existência. Falta-nos em muitas situações habilidade no trato com o que é essencial, em outras nos falta clareza para discernir o que nos faz bem, mas principalmente nos falta sabedoria para decifrar os inúmeros enigmas da vida. Quem sabe entender, por exemplo, que não há nada eterno, mas se for algo que nos faça vibrar de emoção, teríamos que preservar e cultivar como se a vida fosse acabar amanhã.

Há quem diga que viemos ao mundo a passeio e de fato uma grande parte da população vive exatamente dessa forma, como se estivesse apenas numa enorme aventura. As pessoas de posse econômica regando a vida com muita bebida, comidas finas e diversidades de lazer e uma grande parte da população as imitando, mesmo sem posse. Na contramão dessa história a população pobre e carente apenas sobrevivendo com enorme dificuldade.

Uma visão dos que estão no topo e no meio da pirâmide econômica e social e os que estão na linha de baixo na base da pirâmide. Enquanto uns esbanjam o que tem e outros fazem o mesmo ser nada ter para buscarem autoafirmação, a maioria do povo brasileiro luta a vida toda para se sustentar de pé. Como humanos deixamos muito a desejar, pois na maioria das situações o que prevalece é o prazer individual, quando a grande necessidade de sobrevivência digna é coletiva e aí eu pergunto qual é a sua? O que vieste fazer nessa vida?

Para uma parte da população gotas de orvalho nas caminhadas matutinas em momentos de lazer e para uma grande parte trovoada e tempestades. Justamente para aquela parte da população que ficou presa no tempo tentando se afirmar ou nada aconteceu como o planejado. O pior é que muitas dessas pessoas se culpam pelo que chamam de fracasso.

Porém, de que culpa e fracasso, estamos falando? Que mundo é esse que condena uma grande parte da população em detrimento de uma minoria abastada que esnoba competência, mesmo sem tê-la? Quanto tempo nos resta para mudar uma realidade que nos persegue? Em quem de fato podemos confiar se no fundo a luta pelo que chamam de poder confunde e iguala tudo? Por onde anda nossa esperança perdida na última tempestade, que praticamente perdemos tudo? São grandes perguntas que requerem grandes respostas, mas algumas delas jamais as teremos.

Outro dia me pus a observar a janela da vida e vi lentamente à vida passar. Olhei para trás e de repente me veio um medo enorme de não dar conta da gigantesca tarefa que me envolvi. Além disso, ouvi uma voz que me dizia: “Cuidado no futuro você vai estar só”. Busquei forças no infinito, olhei atentamente para quem me insultava e disse: “Não sabemos ao menos o que vai ocorrer conosco daqui há segundos, imagine saber o que vai acontecer num futuro distante, que é a nossa esperança de sobrevivência. Minha força vem de dentro e não a partir do que ocorre ao lado”! Por um ato de insubordinação pessoal aos diversos padrões que a vida estabelece e por teimosia constante, resolvi caminhar com quem comigo vier de coração.

Serei eu um iceberg como me disseram outro dia? Como serei lembrado quando completar minha existência? Que projeto de vida deixarei? Tem alguém que me conhece de fato? A única certeza que tenho na atualidade é a de que uma parte de mim é uma busca permanente nas ilusões abstratas da vida, mas a outra parte é pura convicção e é essa parte que produz todas as certezas que tenho e as que eu venha a ter.

Que sempre eu permaneça alinhado junto às pessoas que sonham e lutam por uma vida digna para a humanidade excluída do sistema e principalmente junto daquelas que jamais esconderão um sorriso sincero de prazer quando vir os morros descendo ao asfalto para retomarem o que lhes foram tirados à força pelas pessoas que ocupam a parte de cima da pirâmide. Eu estarei lá!

Sou o que a minha imaginação quiser e o que os meus sonhos alcançar. Sou luta. Sou vida. Sou certeza, mas também interrogação. Para alguém posso ser amor e para outras pessoas posso ser solidão. O canto que entoou hoje vem do meu ego ferido, mas também das promessas de novos momentos que apontam para o por do sol.

Sou a loucura que vaga nas mentes sonhadoras dos loucos e das loucas que sonham em conquistar o Olimpo e socializá-lo com quem estiver caminhando lado a lado conosco e de mãos dadas. Vem conosco!
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social