Ontem ao ler um comentário no meu post anterior,
de uma pessoa que por enquanto só a conheço das redes sociais e ser
classificado como alguém que possui uma alma de poeta, me veio uma alegria de
criança, daquelas que não se explica, ao encontrar um ser que consegue me enxergar
de uma forma que nem eu mesmo me vejo e que por certo quando me conhecer
pessoalmente não vai me julgar pelo que eu possa ter e sim pelo que sou e minha
sorte de trazer pessoas como ela para vir comigo em minhas viagens
existenciais.
Um dia ouvi de alguém sábio, que entrar na
fase dos “enta” bem é revelar o que nossa alma transcende e compartilhar com quem
nos rodeia por amor, da nossa melhor porção, que está longe de ser uma viagem
num carrão de cem mil, acompanhado, numa estrada deserta com uma linda paisagem, que também é
muito bom e sim um convite para saborearmos juntos o que a vida e a natureza
nos deram de melhor que foi a sabedoria de observar pequenos movimentos do
fluxo entre a cabeça e o coração e transformar isso em momentos felizes. Algo
que a sociedade moderna praticamente abdicou pelo seu embrutecimento.
A crise da pandemia nos trouxe uma nova
visão do que realmente somos. Das nossas possibilidades e limitações, da nossa forma de ser,
do que tínhamos em abundância e não dávamos à mínima importância e hoje um dos nossos maiores
sonhos é apenas ultrapassar o limite do nosso portão e andarmos livremente pelas ruas
novamente. Algo impensável para quem via o mundo a partir de sua realidade ou num boteco qualquer.
A vida moderna se transformou numa
grande neurose competitiva que se instala em nosso subconsciente a parir do
“ter” e às vezes inebriados vamos também fazendo nossas escolhas e situando nossa vida a
partir delas. Que carro temos? É popular ou de classe? Que celular temos? É
daqueles baratinhos ou cabe o mundo nele? Que computador temos, é
da Apple? Enfim, isso nos situa em que posição nos encontramos na pirâmide
social, mas também serve de parâmetro para avaliarmos o quanto nosso ego está inflado ou
não.
Ao me desnudar de tudo
isso, vejo que praticamente não existo para muita gente no quesito “ter”, mesmo tendo vindo de uma empreitada por amor. Caso eu
morra amanhã, pois a minha vida não me pertence, não deixarei nada de grande
valor ou de importância financeira, tampouco quis ter algo na vida a partir da
mais valia e da exploração humana.
Não possuo bens
materiais de luxo ou de última geração, muito menos desfruto de mordomias, que façam
as pessoas se lembrarem da minha memória a partir deles. Quero ser lembrado
apenas pelo que sou, deixando quando me for, apenas uma história de vida
construída com muita luta, dedicação e dignidade, que quem me conhece de verdade por certo se lembrará.
Qual meu patrimônio real? Humildade,
coragem para lutar, capacidade para me refazer, dignidade na alma, carinho em
abundância, sinceridade e transparência nas relações e amor sincero, que sempre
doei de coração para quem caminhou comigo buscando a minha essência e também me
amou. Caso eu volte nas próximas gerações, gostaria muito de voltar exatamente como hoje sou. Simples, direto e objetivo.
Nada tenho de valor monetário que
encante ou chame a atenção das pessoas e muito menos beleza física. Sou um ser eminentemente comum,
mas quem por acaso ou por destino comigo se encantar a partir do que realmente sou,
terá alguém real, leal e de corpo e alma para ser seu par, em todos os tipos de
empreitadas que a vida nos trouxer. Prefiro continuar sendo o que sou, pois não deixarei dívidas que minha alma não possa pagar.
Completo-me a cada vez que encontro
alguém que me consegue fazer sonhar com poucas coisas e continuar acreditando que o
melhor ainda está por vir.
Antonio Lopes Cordeiro
(Toni)
Estatístico e Pesquisador em
Gestão Social