O que é o poder? Para que serve o poder?
O poder transforma as pessoas? Você conhece alguém que era normal e depois que
recebeu alguma parcela de poder se transformou noutra pessoa irreconhecível? Conheço
várias delas...
Ao iniciar essa conversa de um assunto
tão difuso como esse, vale antes perguntar de que poder estamos falando, pois existe
uma longa estrada que separa o poder sobre o povo, aquele que se manifesta de
cima para baixo desrespeitando direitos e impondo condições e o poder popular
que atua de forma coletiva de baixo para cima na cobrança de seus direitos e
por cidadania.
O poder se oculta e cresce nas
entrelinhas da aceitação da submissão e nas diversas disputas de interesses em
todas as instâncias, que em muitos casos se apodera da vaidade de algumas pessoas
e as revelam em outros seres que repousavam em paz envoltos em mitos. De um
lado a Matrix e quem se alia a ela e de outro os pequenos poderes pulverizados
nas instituições, organizações das mais variadas correntes de pensamentos e
ideologias.
Paulo Freire nos coloca algo para se
pensar. Há um processo ideológico em curso nas escolas, ao se passar para o
aluno a ideia de que ele não sabe nada e é a escola que vai lhe trazer o
conhecimento necessário, desconhecendo e desrespeitando o saber que cada aluno
ou aluna carrega dentro de si.
O interessante é perceber que isso
ocorre também na hierarquia e na escala de valores existentes nas organizações,
principalmente nas organizações políticas e suas divisões internas de poder. A base
da estrutura só fica sabendo o que se discutiu nas reuniões de comando, uma
pequena parte do conteúdo e o que for permitido se saber, para que não se
atrapalhe o processo de disputas internas, muitas vezes para onde cada setor
quer levar a sociedade. É uma reprodução natural do modelo da estrutura de
poder existente no sistema,
Entender as diversas formas de poder é
uma complexa discussão, tanto de ordem política-ideológica, como principalmente
de ordem cultural.
Como entender, por exemplo, que uma grande
parte da própria militância política ainda acredita que o PT e seus aliados
chegaram ao poder quando governavam o país e aí vem um questionamento
necessário, pois se isso é verdade, como se permitiu pacificamente o golpe
contra a Presidenta Dilma ou que o Presidente Lula fosse preso e só solto por
ordem da própria justiça fraudulenta do golpe e da prisão? Algo a se pensar,
pois tudo ainda está em curso. É certo afirmar que os governos são instâncias
de poder, mas segundo Karl Marx, é o poder econômico quem determina as ações
num país capitalista.
Essa discussão está na ordem do dia,
visto principalmente que o país só se movimenta de fato nos processos
eleitorais que são legítimos para quem defende a democracia como instância
superior, mesmo um setor defendendo a democracia representativa que se encontra
podre e a vanguarda de enfrentamento defendendo a democracia participativa ou
direta, mas não é tudo para quem defende uma mudança radical da sociedade.
Para entender isso teríamos que resgatar
uma conversa com Paulo Freire em 1989 e discutirmos em detalhe o que ele chamava
da Teoria do Carrossel, onde as estruturas se formam sem hierarquias e sim a
partir do projeto central.
O importante mesmo é não se deixar
encantar por qualquer forma de poder, porque o poder é como um saquinho de
algodão doce colorido, ou ainda porque ele pode sim destruir um sonho, mas por
certo também destruirá a história de vida de quem age dessa forma, porque quem
está abaixo um dia acorda e enxerga que só se muda com os enfrentamentos de
toda ordem.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Social