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segunda-feira, 31 de março de 2014

Os Filhos da Ditadura

Em todos esses anos quis escrever meu melhor texto sobre você. Minhas melhores palavras, minhas melhores ideias, meus melhores momentos guardei para que em uma folha fosse eternizado meu sentimento por você.

Quantos livros li, quantas tentativas fiz de escrever sobre você, mas não era o meu melhor texto, não era minha melhor história. E você só merece o meu melhor. Pensei, repensei, sorri com o exercício diário de escrever meu melhor texto, mas chorei ao lembrar que longe de você não existo.

Quando percebi que não poderia te traduzir em uma folha comecei a rascunhar esse pequeno lembrete de como você é importante para mim. Sem você não estaria aqui; sem você não existiria nenhum texto meu; mesmo aqueles tristes e lamentáveis que eu rascunhei; meus textos infantis, juvenis não poderiam ser escritos sem que você existisse.

Eu ainda percebi que qualquer coisa que eu escrevesse não traduziria sua importância para mim. Posso fazer o meu melhor texto e ele não dá conta de dizer que você salvou vidas, enxugou lágrimas, acabou com sequestros; enfim você mudou uma sociedade.

Tenho que te pedir desculpas por que às vezes me deixo levar por um senso comum perverso e rancoroso; quando você chegou em minha vida e eu já tinha lá meus 20 e poucos anos; já tinha compreensão de algo e mesmo com sua bondade e que tenha me mudado, eu já tinha marcas, cicatrizes que me são abertas sempre que lembro deste tempo. Eu um jovem, com ideias sonhadoras, iniciando minha vida e consciente de que era importante minha luta, fui desalojado de minha história. Fui apresentado aos porões da vileza, fui refém da maldade, mas por você lutei. E o melhor de minha luta foi encontrar você no final daquela batalha. Não me arrependo de nada, minha vida é marcada por histórias e aproximações; minha vida foi de distanciamentos e reencontros; minha vida foi e é resultado de sonhos e mais sonhos.

Quero agradecer a você, LIBERDADE, por tudo que me proporcionaste. Quero pedir apenas que não deixe usar o teu sagrado nome por aqueles que pretendem prende-la em uma cadeia que subtrai direitos dos mais humildes.

Quero pedir que fique vigilante e que se for preciso conte com meus sonhos, conte com minha militância, com minha ação, conte com meus escritos em favor de um mundo mais solidário, justo e soberanamente livre.

E mesmo que meu texto não seja com as melhores palavras, com as melhores ideias, tenha por certo, que foi com você que vivi meus melhores momentos, pois pude ser eu mesmo sem ter um sensor a me torturar e a torturar a quem eu amava; pude ser eu mesmo só com você, LIBERDADE, que apareceu no início dos anos 2000 e repôs vida, fé e esperança no coração de todos. Hoje compreendo que a esperança venceu o medo, mas também creio que a LIBERDADE venceu o GOLPE; somos servos de você, LIBERDADE, e por consequência somos primos da igualdade, companheiros da luta e defensores do livre arbítrio, da livre palavra, enfim de uma vida livre.

Vou estar junto de você, LIBERDADE, e em teu nome empunharei qualquer bandeira contra a manipulação; levantarei a bandeira da paz, do amor e do direito de viver com você, LIBERDADE, sempre; porque sei que você, LIBERDADE, não vem de forma gratuita. Mas também saiba, LIBERDADE, que por você, um filho seu jamais foge à luta. E sonhos coletivos são realizações que certamente acontecerão.

Antonio Mentor
Deputado Estadual

Viva a Liberdade

Impossível lembrarmos os 50 anos do golpe militar sem, primeiro, nos solidarizarmos com as vítimas, aquelas que morreram nas mãos de torturadores, que se recolheram em exílio mundo afora e aquelas que tiveram suas histórias de vida interrompidas simplesmente porque defendiam a liberdade, a igualdade e a justiça social. São 50 anos de um luto que jamais esqueceremos, não por reverência, mas por lembrar-nos do quão difícil foi esse período na história brasileira e para zelarmos que isso jamais se repita.

Impossível, do mesmo modo, esquecer os anos de atraso, especialmente intelectual, a que nosso povo foi submetido pelo golpe militar de 1º de abril de 1964 e sua política de desmantelamento da educação pública e da liberdade de expressão. Esse foi um retrocesso que vitimou toda a Nação, cujo alto custo é pago ainda hoje.

Mas que fique no passado a história. Dela devemos tirar o aprendizado. Hoje merecemos celebrar a democracia que areja a atividade política e cidadã no Brasil. O que importa é fortalecer nossa vocação de povo livre, defender a Constituição. O que importa é seguir na luta contra o preconceito, contra a desigualdade, contra o racismo e contra todas as formas sutis de opressão que também limitam, segregam e intimidam; que apequenam as pessoas mais humildes e discriminam as diferenças. Esta é a nossa luta.

Uma luta que trazemos no DNA do Partido dos Trabalhadores, um partido político concebido ainda no processo de abertura para a democracia, em 1978, e gestado nas greves do ABC e nos movimentos sociais; o partido liderado por Lula, o nosso líder maior, e por gente do quilate de Apolônio de Carvalho, que trouxe uma experiência de luta contra o nazismo na França e contra Franco na Espanha depois de exilado pela ditadura militar no Brasil; de Lélia Abramo, atriz e militante que trouxe da Itália sua experiência de luta contra o fascismo de Mussolini e única mulher a assinar a ata de fundação do PT no colégio Sion, em 1980; e de Benedita da Silva, uma das primeiras mulheres a filiar-se ao PT, hoje deputada. Isso para citar apenas alguns nomes dos muitos que organizaram o que hoje é o maior partido de esquerda do mundo.

Nossa tarefa não é fácil e nem pequena, mas é preciso reconhecer que foi a partir dos governos do PT, com Lula e agora com Dilma – ambos perseguidos políticos -, que a Nação recuperou sua autoestima; que a universidade e a casa própria deixaram de ser um sonho impossível ao trabalhador. Que o primeiro emprego não é mais um pesadelo aos jovens que saem dos bancos escolares. Que as mulheres ganharam de fato espaço de luta e de reconhecimento.

O PT está fazendo justiça social. O Brasil está oferecendo oportunidades. Isso é democracia.

O que ficou para trás é parte triste do passado. Gostamos do cheiro de gente, gostamos de dialogar, gostamos de lutar e crescer juntos e gostamos da crítica para evoluir.

Viva a igualdade. Vida eterna à liberdade.
Márcia Lia
Advogada - Ex-vereadora
Presidenta do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Araraquara

A Liberdade como valor absoluto na construção da sociedade que queremos

Quando aconteceu o Golpe de Estado de 1964, que colocou o país numa ditadura sangrenta que duraram 21 anos eu tinha apenas nove, porém me lembro muito bem da noite daquele dia ouvindo no rádio que o país se encontrava tomado pelos militares. Na minha cabeça todos nós seríamos presos, só não conseguia entender o porquê.

Como criança não tinha a menor ideia do que significava aquilo, porém no meu íntimo sentia que não era uma coisa boa. A confirmação veio anos depois quando alguns conhecidos comentavam que várias pessoas estavam sendo presas como terroristas e algumas delas não voltariam jamais. Era algo assustador.

Se fôssemos fazer uma análise fria da situação, não dá nem para imaginar o que leva um país a sofrer um golpe de Estado, a não ser o poder a qualquer custo, onde o clima de terror se espalha e o medo passa a ser parceiro diário de todas as pessoas que pensam. Chegavam ao cúmulo de vender a ideia de que estudar demais ou ler demais não era uma coisa boa, pois podia levar as pessoas a terem contato com material subversivo.

Hoje ao completar 50 anos daquele dia fatídico e dos tempos de trevas que vivemos, lembro de algumas passagens como se fosse hoje. No dia 19 de setembro de 1971 eu estava no Estádio do Morumbi no jogo Palmeira e Flamengo, com um amigo que se foi, quando foi anunciado que dois dias antes tinha sido assassinado um dos maiores terroristas do país: Carlos Lamarca, que na verdade era mais um guerrilheiro que lutava pela liberdade. O mais sombrio foi que parte da torcida vibrou como se tivesse ouvido que um time adversário tinha tomado um gol. Eu lembro que não vibrei, mas, no entanto não conseguia entender o que significava um terrorista. Lembro apenas da sensação de medo que invadiu a minha alma.

A voz do locutor do estádio até hoje não sai da minha cabeça. Cinco anos depois, na minha cidade natal, Belo Jardim em Pernambuco, tinha início a minha militância, eu me juntara a um grupo de pessoas do antigo MDB e apoiamos para Senador Marcos Freire, que anos depois morria num estranho acidente aéreo.

A partir de então a luta pela liberdade começa a estar presente na minha vida em todos os momentos e teve amplitude nas Comunidades Eclesiais de Base, ligadas à Teologia da Libertação, passando pelas Pastorais da Juventude e Operária, chegando às greves de 78, 79 e 80 em São Bernardo do Campo, até o dia que encontrei o Partido dos Trabalhadores como um ponto de encontro de todas as vozes oprimidas e todas as pessoas que sonhavam com a liberdade, com a justiça e principalmente com a solidariedade.

Aquela liberdade tão sonhada, como as águas de um rio, começava a tomar seu curso natural, alicerçada pelas lutas de todos os setores organizados da sociedade, onde operários, estudantes e os movimentos populares ecoavam um grito parado no ar por mudanças profundas e pelo fim da ditadura. Era algo intenso e represado que pouco a pouco rompia as paredes dos sombrios porões e trazia como resultado a esperança de uma sociedade livre. Aí vieram os comícios pelas Eleições Diretas Já em várias partes do país, que tive a oportunidade de estar em vários momentos. Porém o da Praça da Sé e o memorável Comício do Vale do Anhangabaú foram inesquecíveis e culminou com o início da democracia que vivemos até a atualidade.

Hoje com aquela liberdade que lutávamos conquistada, escrevo apenas para homenagear todos os companheiros e companheiras que tombaram sonhando com uma sociedade livre, a todos e todas que foram torturados e apesar da dor não delataram seus pares e aos que deram suas contribuições, cada um à sua maneira, pois as lutas e os gestos de revolta também tiveram um significado particular, antes e depois do golpe. A todos e todas: o meu respeito, minha identidade com a causa e minha total solidariedade.

É certo que a sociedade que queremos ainda não existe. Porém é inegável o papel da democracia como agente de transformação.  Uma das lutas nos dias de hoje é contra a possibilidade do Estado Mínimo, onde a população carente, fruto das desigualdades capitalistas, não fique refém do mercado, que está voltado apenas a cumprir seu papel de selecionar os melhores e estreitar cada vez mais a pirâmide econômica.

Assim o sonho de uma sociedade justa fraterna e igual continua tão presente como foi no passado e quem é militante de uma causa não descansará jamais enquanto houver em qualquer parte do país pessoas banidas da sociedade e de seus direitos à plena cidadania.

Termino afirmando que, mais vale uma democracia, mesmo que seja tímida, do que uma ditadura seja ela qual for, onde apenas um grupo de privilegiados ditem as regras e vendam à ilusão de que é necessário o sofrimento para chegarem à liberdade.

A sociedade que sonhamos tem que ser antes de tudo humana, onde a solidariedade seja a maior ideologia e a luta pela liberdade seja o lema maior e por ela todo cidadão e cidadã molde seu projeto de vida. 


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

quinta-feira, 27 de março de 2014

Triste Bônus do Professorado Paulista

Figura: http://eloacossa.blogspot.com.br

Triste Bônus da Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo.

Triste ver professores, trabalhadores a espera de algumas migalhas, que pode vir ou não. Só depende da sorte.

Sorte sim, receber o Bônus não expressa a capacidade do profissional, ou mesmo mede a aprendizagem de seus alunos.

Quantos professores competentes deixam de receber estes valores desde a sua implantação?

Mesmo todos sabendo que aquele cara é um professor  nato, competente, carismática  criativo e merecedor de reconhecimento da sociedade e de seus pares.

Triste ver todo um potencial humano a mercê de um dinheiro inserto, que com certeza fará falta no bolso de qualquer um dentro deste sistema de “valorização de resultados”.

Tenho a impressão de esmola. .........E o dia seguinte a divulgação dos resultados............ Ninguém fica feliz, apesar de ter na sua conta um valor significativo.  A tristeza impera, a cobrança é cruel e dolorosa com aqueles que não tiveram a sorte de seu nome ter sido premiado.

A dor de ver seu amigo, seu companheiro do dia-a-dia, de cabeça baixa, com sua auto-estima ao chão é desumano.

A dor só é comparada a sua própria, afinal qualquer um pode não ter sido sorteado.

E naquele instante o que pensar, o que sentir?

Se sentir um professor incompetente, injustiçado, ou se conformar em ser mas apenas um trabalhador que depende da sorte e não do seu trabalho para cobrir seu cheque especial ou comprar alguma coisa para sua família.

Triste bônus........... até quando............
Silvana Barboza Cordeiro
Mestranda em Políticas Pública pela Fundação Perseu Abramo
silvana_barboza@ig.com.br

quarta-feira, 26 de março de 2014

A violência da manipulação das informações para a sociedade

Figura: vidateorica.blogspot.com

A maioria dos veículos de comunicação do Brasil (70% deles) pertence a seis famílias abastadas brasileiras e como seres pensantes que já fizeram suas escolhas, não só em termos de candidatos, mas precisamente em termos de valores políticos, econômicos e sociais, ditam as regras, confundem a cabeça do povo e buscam a volta ao passado, indignados com essa história de pobre poder ter e fazer tantas coisas, que num passado recente eram privilégios somente da Casa Grande, enquanto as Senzalas ficavam apenas com as sobras.

Isso poderia até parecer natural num país de uma democracia tão recente, onde todos tem o direito de se expressar da forma que quiser e como quiser. O problema está na medida em que esses veículos de comunicação se julgam no direito de venderem a ideia de que falam a verdade da sociedade e se enfurecem quando detectam setores organizados que emitem pensamentos contrários, principalmente se colocarem em risco a hegemonia dos setores produtivos e reivindicarem a manutenção e ampliação dos direitos trabalhistas.

Infelizmente a população menos esclarecida não consegue enxergar essa luta ideológica travada no interior do sistema e tendem a concordar com o que leem, ouvem ou assistem, até mesmo por não ter um canal de comunicação que mostre o outro lado da moeda e assim passa a reproduzir uma linguagem viciada e tendenciosa, que coloca em xeque todos os dias a importância dos partidos políticos, dos sindicatos, das cotas para os negros e para a população pobre e principalmente a importância dos pleitos eleitorais, onde muita gente perdeu a vida para que isso ocorresse.

Onde está o problema central? É possível enxergar com clareza o que um candidato se propõe? Porque a população tende a entrar no senso comum?

Quero acreditar que o problema central está na interpretação equivocada da democracia, onde se passa a ideia de que a representatividade é suficiente para eleger pessoas, mesmo sem se conhecer e esses representar os direitos e as reivindicações da sociedade desorganizada.

Enquanto isso, quem aposta na participação como principal alternativa fica como se estivesse fazendo parte de algo que não é bom. Algo subversivo, onde a subversão é “peitar” os de cima em detrimento aos direitos dos de baixo.

Já que a população mais necessitada não tem um veículo de comunicação que conte as duas histórias, se faz necessário organizá-la, seja em fóruns, em entidades de moradores ou mesmo em partidos políticos que visem a discussão dos seus valores. Assim, mesmo os candidatos que não forem indicados pelos setores organizados, ditos “expertos”, saberão que serão cobrados de outra forma. Ou seja, a partir de novos valores e informações.

O senso comum passa a ser a única opção visível, algo que a velha mídia reforça todos os dias, ao escrachar os políticos e a política, com o principal objetivo de direcionar corações e mentes do povo brasileiro, buscando um resultado comum para os anseios do pensamento elitista: político, econômico e social.

Nesse barco desgovernado do ponto de vista político-social, tentando confundir a cabeça do povo, estão uma quantidade enorme de políticos de carreira, grande parte dos partidos políticos e, sobretudo o PIG – Partido da Imprensa Golpista, que tenta calar a voz das ruas, substituindo-a pelo eco rouco da ditadura midiática.

Em se tratando de gestão pública, que sempre foi tratada como uma “terra de ninguém”, a única forma segura de saber se determinada Política Pública deu certo ou não, é ouvindo a população e todos os atores envolvidos.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com

Resolução Política do Diretório Nacional do PT

Reproduzindo o que é importante 

Reunido no dia 20 de março de 2014 em Brasília, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, aprovou a seguinte resolução política:
O povo brasileiro chega ao final do primeiro trimestre de 2014 com a certeza de poder comemorar, ao mesmo tempo, a consolidação e o aprimoramento da nossa democracia, que venceu o obscurantismo dos tempos de ditadura; e o avanço na superação das desigualdades sociais, nunca experimentado com tamanha amplitude quanto agora.
O Partido dos Trabalhadores tem por objetivo vencer as eleições presidenciais de 2014, reelegendo a Presidenta Dilma Rousseff para um segundo mandato por dois motivos fundamentais: porque fazemos um balanço globalmente positivo de seu mandato e para dar continuidade às transformações no Brasil, iniciadas pelo Presidente Lula em 2003.
Quando são lembrados os 50 anos do golpe e da instalação da ditadura militar, é preciso que façamos uma análise crítica sobre o inacabado processo de transição democrática. Saudamos a coragem e determinação de nosso governo em instalar e fazer funcionar de forma autônoma a Comissão Nacional da Verdade e apontamos a necessidade de que esta comissão vá além do papel de coletar dados e informações sobre as atrocidades cometidas naqueles tempos, e realize um amplo debate público sobre o direito à memória.
Foi a longa e incansável luta de nosso povo que derrotou aquele regime e instalou, naquele momento, uma tênue democracia, que agora se aprimora e se consolida, mas que segue em construção. Para que possamos ter uma democracia plena devemos criar as condições para a não repetição de situações como as vividas naquelas épocas sombrias.
A identificação dos responsáveis pela tortura e pelos assassinatos, longe de parecer revanche, deve servir para que nosso povo tenha conhecimento dos reais autores de tanta tristeza provocada a milhares de famílias brasileiras. Mas para que façamos justiça aos democratas, socialistas, religiosos, estudantes, jovens, donas de casa, trabalhadores e tantos outros que sofreram a covardia da cruel agressão física e da supressão das liberdades democráticas, é preciso que tenhamos posição enfática em prol da revisão da Lei de Anistia.
Neste contexto saudamos a ação da bancada petista na Câmara dos Deputados pela reconquista da Comissão de Direitos Humanos, fazendo com que ela retome suas funções legítimas e históricas.
É por tudo isso que os petistas, em todos os cantos do país, devem se juntar a outros partidos e aos movimentos sociais para festejar a democracia sob o lema “Ditadura, nunca mais!”
Foi esta democracia que possibilitou que o primeiro operário e a primeira mulher fossem eleitos Presidentes do Brasil, ambos filiados ao nosso PT. E foi pelo compromisso de nosso Partido com as causas dos menos favorecidos, que nossos governos aplicaram políticas de superação da miséria, de diminuição das desigualdades sociais, de ampliação dos direitos e das oportunidades, de combate a todas as formas de discriminação.
Passado meio século do golpe que interrompeu a agenda progressista de reformas de base anunciadas naquele tempo, o Brasil experimenta os avanços do ciclo virtuososo dos governos liderados por Lula e Dilma. Nestes 12 anos, avançamos em reformas significativas para o país, mas nos deparamos com o desejo cada vez mais latente de realizarmos um conjunto de reformas estruturantes, já apontadas no 5° Congresso do PT.
Esse salto no programa a ser apresentado pelo PT será conformado a partir da mobilização e no diálogo com os movimentos sociais e através do debate político com os partidos que compõem a nossa base aliada.
Nos governos Lula e Dilma comemoramos constantemente o aumento do emprego. Temos hoje uma das menores taxas de desemprego da história do país combinada com o aumento da renda dos trabalhadores e a ascensão social de amplas camadas da população. Enquanto o restante do mundo enfrenta crises econômicas e sofre com índices de desemprego alarmantes, o Brasil demonstra estar preparado para enfrentar todas as adversidades originadas na globalização excludente.
Enquanto nossos opositores, nos partidos e na imprensa, cantavam a quatros cantos que o Brasil poderia ter um pequeno crescimento econômico ou até não crescer, os dados demonstraram que nossos caminhos são seguros e nosso crescimento sustentável. Crescemos acima da média de centenas de países, sem submissão às políticas recessionistas e excludentes que são aplicadas mundo afora!
Mesmo assim, parcela da mídia brasileira faz questão de pintar um quadro aterrorizador na economia, disseminando maus presságios sem fundamentos técnicos, apenas com a clara intenção de tentar influenciar nas disputas eleitorais. Chega a ser impressionante a distância apresentada por uma parcela da mídia entre o Brasil verdadeiro, governado pelo PT, e o Brasil “deles”.
É fundamental que o PT apoie firmemente todos os movimentos e iniciativas que busquem a democratização das comunicações e uma nova ordem de informação a nível internacional. Neste caminho é que nossas bancadas no Congresso Nacional devem se esforçar para aprovar o novo marco civil para a internet, com a neutralidade da rede proposta pelo governo.
Além disso, devemos nos somar à iniciativa da CUT e outras entidades e ampliar as ações que defendem a democratização da mídia através do Movimento para Expressar a Liberdade, fazendo com que este debate chegue aos sindicatos, universidades, escolas, igrejas, campos de futebol, etc. Somente com a ação firme de nossos militantes é que esta campanha ganhará as ruas.
Ao mesmo tempo devemos nos preparar para um dos maiores eventos esportivos do mundo , a Copa do Mundo, que ocorrerá no Brasil a partir de junho. Os “velhos do Restelo”, parafraseando Camões, ficam agourando o insucesso da Copa no Brasil. Tentam, de todas as formas, estimular manifestações contrárias e alardeiam a inexistência de legado a ser deixado pelo campeonato mundial. A geração de empregos, a atração de turistas de todos os cantos do mundo e as obras estruturantes – especialmente as de mobilidade urbana em todas as cidades sedes – são ‘causa e consequência’ da realização do Mundial de Futebol no país.
Foi o governo do Presidente Lula que conseguiu vencer a disputa pela realização da Copa em 2014 e das Olimpíadas em 2016 e esses eventos esportivos mundiais são motivos de orgulho para nosso povo, pois vamos realizar uma das melhores Copas – e, posteriormente, as Olimpíadas – de toda a história.
Não nos omitiremos, entretanto, de participar dos espaços das organizações e movimentos que, sintonizados com essa compreensão do significado dos grandes eventos para o desenvolvimento e projeção do Brasil no exterior, discutem seu legado popular. Vamos usar estas oportunidades para repudiar toda e qualquer forma de manifestação racista, seja no esporte ou contra qualquer cidadão da etnia negra. Apoiamos a posição do governo brasileiro que tem condenado as práticas racistas, xenofóbicas e de todo o tipo de intolerância.
Por outro lado, o Diretório Nacional adverte para iniciativas legislativas que, em nome do combate a ações violentas em manifestações, venham a se converter em restrições dos direitos constitucionais e a repressão a ações legitimas e pacificas dos movimentos sociais.
Sobre a Ação Penal 470, o Diretório Nacional registra a decisão do Supremo Tribunal Federal, que inocentou os companheiros do PT dos crimes de formação de quadrilha e de lavagem de dinheiro. Ao mesmo tempo, repele as denúncias forjadas sobre privilégios inexistentes para os companheiros ilegalmente aprisionados na Papuda. É inaceitável a manutenção de companheiros no regime fechado quando, por lei, já teriam direito ao regime semi-aberto.
Mais uma vez estamos presenciando a oposição e os setores conservadores da nossa sociedade fazer ataques para atingir a imagem da Petrobras. É importante relembrarmos que a nossa maior empresa pública foi alvo da política de privatizações no governo liderado pelo PSDB, apoiado pela elite nacional, representado por FHC.
A Petrobras é a mais sólida das empresas brasileiras com um lucro superior a 23 bilhões de Reais, e a sétima empresa de energia do mundo, tornando-se competitiva no mercado internacional e simbolizando o arrojo do nosso projeto de Nação. A tentativa da oposição e do conservadorismo nacional em atacar a Petrobras é mais uma iniciativa daqueles que sucatearam o Estado brasileiro e aprofundaram as desigualdades sociais.
A defesa intransigente da Petrobras é a defesa do nosso projeto de Nação que tem resultado no crescimento econômico e na justiça social. Um projeto que colocou o Brasil “em pé” perante o mundo.
Com a aproximação das eleições, nosso Partido deve aprofundar o debate sobre nossas alianças, criando as condições objetivas para a vitória de nosso projeto com a reeleição da Presidenta Dilma. O que devemos ter claro é a nossa opção pela política de alianças firmada no programa de transformações sociais que nossos governos estão promovendo. O que devemos exigir de nossos aliados é o forte compromisso com a continuidade destas conquistas e com os avanços que vamos construir conjuntamente.
Nossa prioridade absoluta é a reeleição da Presidenta Dilma. A esta prioridade está submetida nossa tática e nossas alianças estaduais conforme foi decidido pelos delegados presentes no 4º. Congresso Nacional. Mesmo com os altos índices de aprovação de nosso Governo e de nossa candidata ainda temos muito tempo até as eleições. A nossa militância precisa estar atenta. É preciso manter a mobilização, ampliar o debate com a sociedade e defender nosso legado de 12 anos de mudanças no país.
A direção nacional do PT acompanhará os processos nos estados e no DF e coordenará em conjunto com as direções estaduais o processo de decisões sobre a tática eleitoral. Não vamos permitir alianças que conflitem com nossas deliberações, assim como vamos estimular as chapas com nossos aliados no plano nacional.
Está dentro dos nossos objetivos, de acordo com as resoluções do 4º.  Congresso Nacional, a ampliação de nossas bancadas parlamentares, tanto nas Assembléias Legislativas quanto no Congresso Nacional e reeleição de nossos governadores e a eleição de novos governos petistas e aliados nos Estados.
Da mesma forma, vamos apoiar a luta dos movimentos sociais e partidos democráticos pela convocação da uma Constituinte Exclusiva e Soberana para realizar a reforma política que o país tanto precisa. Vamos estimular a coleta de assinatura no abaixo-assinado do PT. Neste sentido, conclamamos nossos militantes a assumirem e organizarem esta campanha em todas as cidades.
Nosso Partido deve estar comprometido com as lutas do movimento sindical e ser contra o Projeto de Lei que tramita no Congresso Nacional prevendo a terceirização de mão de obra e a precarização dos empregos no país, se associar ao movimento em prol da votação imediata do Plano Nacional de Educação, assim como devemos nos somar aos sindicatos na luta pela ampliação dos direitos dos trabalhadores.
Nosso Partido também deve se engajar firmemente nas lutas dos movimentos por moradia que buscam a construção de uma pauta pela reforma urbana com mais moradia, cidades mais sustentáveis, melhores condições de transportes e mais segurança. Fortalecer o programa “Minha Casa Minha Vida” é determinante, particularmente para a população de baixa renda. Da mesma forma, devemos nos somar à luta pelo fortalecimento da reforma agrária e por uma política agrícola, tendo como base os incentivos na agricultura familiar.
Reconhecemos que o ano eleitoral é um ano de profundas e acirradas disputas, especialmente quando estão em confronto visões de país tão distintas entre nós e nossos adversários. Temos que desmascarar a tática dos que torcem e jogam contra o Brasil. Nossos militantes devem estar preparados para estas disputas. Nosso desafio é continuar em frente nas conquistas de nosso povo.
Nossos militantes devem estar preparados para este embate. Nossos governos são governos de conquistas e avanços, que devem permanecer e seguir adiante. É para isso que construímos e consolidamos nosso Partido.
Brasília, 20 de março de 2014.

Silvana Barboza Cordeiro
Mestranda em Políticas Pública pela Fundação Perseu Abramo
silvana_barboza@ig.com.br

terça-feira, 25 de março de 2014

Franca uma cidade sem governo

Franca é uma cidade que - desde pequeno - sempre tive carinho e que em muito me desperta atenção. Principalmente pelas pessoas hospitaleiras, clima ameno e dinamismo. A cidade é economicamente estratégica devido seu pólo calçadista. É referência em diferentes aspectos.
De um tempo para cá tenho procurado compreender melhor o dinamismo da cidade, suas relações políticas, de governo e as demandas da população. Do ponto-de-vista analítico tem sido um enorme laboratório. Entretanto, referente ao humanismo: a experiência é de lamento, choque, sentimento de impotência. Já li em muitos livros sobre a barbárie que pode chegar o ser humano em condições extremamente precárias. Quando este sente que não tem mais vez e nem voz. Nem mesmo o necessário.
O conceito de anarquismo é o fim do Estado. Ou seja, a sociedade que se "regulamenta" por si só. E é exatamente a situação que Franca vive e enfrenta hoje. Um (des)governo ausente. Mas não ausente apenas por não fazer. E sim uma ausência que destrói, preocupa e vitimiza. Não são casos pontuais. É uma sequência de erros. São pessoas nas filas dos hospitais com mau atendimento, um número desumano de óbitos na pasta da saúde com famílias enlutadas. É a relação enrijecida e esgotada com a ACIF - Associação do Comércio e Indústria de Franca: com um contato que amplia gargalos ao invés de pensar alternativas conjuntas. São servidores (pais de família, trabalhadores, mulheres lutadoras) sendo tratados com desrespeito e nenhuma valorização.

Quando embolam tantas crises ao mesmo tempo se estabelece um caos. A população perde direção. O resultado é o cidadão contra o servidor e vice-versa. Perde-se o controle e os limites. O vídeo deste blog (segue) me faz refletir mais e mais sobre a cidade, gestão pública com eficiência/efetividade e, principalmente, muita valorização e compromisso com as pessoas. Resumindo, é somente para isto que deve servir a política: focar e valorizar as pessoas. O resto é o que vemos acontecendo por aí: irresponsabilidade, inconsequência e muita dor. No fundo, quem verdadeiramente sabe é quem sente. 
No link abaixo o Programa Alerta Geral registra um “quebra pau” no Pronto Socorro.
Bruno Santana
Ativista, Militante e Colaborador Político e Social
brunolsantana@yahoo.com.br

segunda-feira, 24 de março de 2014

BRASA DORMIDA

Entre um gole e outro de café, na livraria do shopping nesta tarde de domingo, ouvia eu, sem ter interesse nem como evitar, comentários de um ruidoso grupo que ocupava duas mesas ao meu lado. Eram homens e mulheres idosos cobertos por respeitáveis cãs. Uma delas, mais falante, dizia que, quando se formara professora, 51 anos atrás, alguém com autoridade desafiara sua turma de formandos a recuperar os “25 anos de atraso da educação brasileira”. Outro fez as contas e concluiu: “então, já são mais de 75 anos de atraso”!

Não preciso dizer que, a essa altura, minha audição aguçou-se e meu interesse concentrou-se naquela animada tertúlia. Um dia depois da frustrada “Marcha da Família”, à qual nem Deus se dignou a comparecer, parece-me natural minha curiosidade. E a primeira pérola foi lançada no mesmo instante: “o PT acabou com a educação no país”.

Nessas horas, em que casualmente ouço opiniões desse jaez, o sangue ferve e fico sem saber o que fazer. O desejo é de me intrometer e, com a paciência costumeira, chamar os interlocutores ao raciocínio. Mas não posso, bem sei. Em qualquer situação, seria deselegante e um atrevimento que não seria bem recebido pela companhia.

Minha reação foi deixar o lugar. Levantei-me e fui ao caixa, pagar a conta. Deixei o café comentando em voz alta, mas sem qualquer pretensão de que os alegres avós me ouvissem: “o PSDB governa São Paulo há vinte anos e a culpa é do PT!”? A vontade era de, com educação, perguntar qual a lógica desse discurso. Se o ensino no Brasil tem um atraso de 75 anos, como é que o PT pode ser responsável por isso? E, ao mesmo tempo, informar ao grupo que a educação é de responsabilidade dos estados – no nosso caso, de um governo instalado há duas décadas! O dobro do tempo que o PT governa o Brasil.

A uns passos dali, minha esposa me contou outra pérola que ouvira enquanto eu acertava a conta: “o PT despertou o ódio de classe”, dissera a mesma senhorinha falastrona.

Irracionalidade à parte ocorreu-me o seguinte pensamento: essa coisa de o PT ter “despertado” o “ódio de classe” começa a me soar como uma observação verdadeira. Não, obviamente, como uma decisão proposital, consciente, mas como mero – e, quiçá, inevitável – resultado.

De fato, até a ascensão do partido ao poder, o miserável brasileiro repousava como brasa adormecida na fogueira social. Eles lá, aquietados no fundo da senzala, enquanto a minoria refestelava-se tranquila em confortáveis poltronas da casa grande. Vivia-se a paz dos cemitérios.

Lula soprou o braseiro. Levou à gente humilde alimento para matar-lhe a fome três vezes ao dia, esperança e confiança em que poderia conquistar bem mais que o pão nosso diário. Deu-lhe o peixe, mas também forneceu a vara, o anzol, a isca e lições de como pescar, tarefa que vem sendo complementada por Dilma. Ambos deram aos pobres de Cristo oportunidade de ocupar e usufruir dos recursos, públicos e privados, aos quais antes nem sonhavam ter acesso, como shoppings, bancos, aeroportos, planos de saúde, escolas e universidades públicas.

Como formigas alvoroçadas, a plebe passou a incomodar a nobreza, que se achava a salvo do formigueiro e que, de uma hora para outra, viu ameaçados seus privilégios.

Sem se dar conta, Lula e Dilma sopraram também a brasa dormida do sentimento que os da classe de cima sempre nutriram em relação aos negros e brancos habitantes da senzala. Nesse ponto, a velhinha de sóbrias cãs, fulgurantes olhos claros e pele alva tem lá sua razão, sobretudo em relação a si mesma.


Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br

quarta-feira, 19 de março de 2014

A Marcha-à-Ré

Eu não tenho a menor preocupação com a tal Marcha que os extremistas estão prestes a promover, uma verdadeira marcha-a-ré na História do país, clamando pela “volta dos militares”. Mais uma vez se realizará a profecia de Karl Marx, para quem toda tragédia se repete como farsa. Será um espetáculo, no mínimo, cômico, tão ridículo como são os argumentos dos que defendem tal ignomínia.

Mas o tal evento abre oportunidade para, pelo menos, ampliar-se o debate na sociedade brasileira sobre o conceito de Política e, ao mesmo tempo, permite medir a que nível conseguem descer os que não são capazes de derrotar no voto o partido governista.

Travei recentemente um proveitoso debate particular com um conterrâneo, que dizia que os “marchistas” (não confundir com os “marxistas”, desafetos daqueles) não querem ditadura, nem o poder do Estado, nem mesmo um regime militar. Ele tentou explicar esse paradoxo, dizendo que “estamos suplicando aos militares que assumam o governo deste país justamente pelo que os políticos apresentaram nos últimos vinte anos”, ou seja, segundo ele, “enriquecimento ilícito pessoal com o nosso dinheiro”. E acrescentou que “todos os políticos são corruptos, nenhum presta”.

Então, é isso. Na base do discurso, o velho falso moralismo dos que se dizem incomodados com a “corrupção” vendida diariamente pela mídia, embora, desde o episódio do mensalão, em 2005 – em si mesmo, uma mal engendrada mentira –, não se tenha tido nenhuma notícia séria sobre o tema no âmbito do governo federal, alvo preferencial dos “marchistas”. E que nada dizem sobre sonegação – que por certo é prática corrente de muitos desses que se articulam em favor do golpe – e sequer enxergam corrupção em outras esferas de governo, como a robusta propina comprovadamente paga pelas multinacionais Siemens e Alstom a tucanos de alta plumagem que governam São Paulo.

Meu contendor dizia esperar que, com os militares no poder (provisoriamente, se bem entendi), seriam presos todos os políticos corruptos. Fui um tanto deselegante, ao fazer troça dessa ideia. Como é que os militares definiriam quais políticos são corruptos e quais não são? Poderes divinais? 

A partir da prisão em massa de todos os políticos – sim, porque todos são corruptos e nenhum presta – os “fichas limpas” poderiam concorrer aos cargos eletivos. Sugeri, então, que os novos “políticos” tivessem outra designação, como “marcianos”, “venusianos” ou “veganos”. Uai! Mas, afinal de contas, precisamos mesmo de uma intervenção militar para realizar algo que já existe? – objetei.

Disse a ele: “não sei se o decepciono, mas, por esse justíssimo critério, a atual presidenta, os ex-presidentes vivos - todos! Inclusive Collor e Sarney - são fichas limpas e têm totais condições de concorrer ao pleito. Como são fichas limpas (para meu desgosto, digo agora) José Serra, Alckmin, Eduardo Campos, Marina Silva, Joaquim Barbosa... Salvo engano, só Aécio Neves responde a processos por improbidade, mas parece que ainda não houve condenação por órgão colegiado, de modo que até ele deve ser ficha limpa”.

Lembrei ao meu amigo que o país já possui instituições sólidas de controle, fiscalização e punição a atos de corrupção em pleno funcionamento, como CGU, TCU, MPF, PF, Câmara dos Deputados, Senado Federal, controladorias internas nos estados e municípios, MP estaduais, polícias estaduais, TCE’s, assembleias legislativas, câmaras municipais. A par desses, há as organizações da própria sociedade, que deve se manter sempre ativa, participativa e vigilante. Mas o meu amigo diz não acreditar no funcionamento das instituições – e a culpa, obviamente, é do governo federal; e a saída, naturalmente, é um golpe de estado.

Ele insistiu em dizer que “a roubalheira é cada vez maior”, regurgitando essa comida estragada que servem diariamente os telejornais, rádios, jornais e revistas.

Sobre a ideia de que os militares tomariam o poder apenas para convocar eleições, escrevi: “mas ora veja! As eleições já estão convocadas! Serão daqui a apenas sete meses! E a ela, rigorosamente, só poderão concorrer os políticos fichas limpas. Por que incomodar desnecessariamente nossos bravos soldados?”.

Ele descrê da urna eletrônica, de modo que a intervenção serviria também para voltarmos à votação manual – mais uma marcha-a-ré. Argumentei que o PT vem amargando sucessivas derrotas eleitorais no estado de São Paulo, lá se vão vinte anos do tucanato, e nem por isso sai por aí alegando fraude nas urnas eletrônicas. Da mesma maneira, o PSDB já perdeu três eleições presidenciais para o PT e, igualmente, jamais vi alguma liderança tucana queixar-se de tal fraude. Nem o PSOL, sempre irrequieto, jamais acusou de fraudulentos os resultados que lhe garantiram bancadas minúsculas nas recentes eleições.

Lembrei o exemplo de minha própria cidade, de minha própria candidatura a prefeito, em 2004, quando fui derrotado. Outros concorrentes chegaram a me procurar para adotarmos uma atitude em conjunto, porque, ao ver deles, era “evidente” que teria havido fraude em favor do eleito. Não embarquei nessa e os demovi da ideia. 

Nas eleições seguintes, em 2008, o eleito teve dois terços dos votos válidos e não faltou gente séria que, usando dados estatísticos e matemáticos, alardeava que só poderia ter havido fraude. Nas últimas, em 2012, o prefeito, então candidato à reeleição – portanto, no exercício do cargo, dotado de maior poder e, presumivelmente, de mais recursos – foi derrotado pelo atual, que teve os mesmos 2/3 de votos que seu concorrente havia obtido nas anteriores. O que fizeram os críticos de antanho? Nada. Silenciaram, simplesmente. 

Será que quem detinha a fórmula da fraude perdeu-a? Ou, subitamente, deixou de querer vencer eleições? Será que as lideranças do PT, do PSDB, do PSOL e dos demais partidos, que vencem aqui e perdem ali, vencem hoje e perdem amanhã, são tolos a ponto de aceitar passivamente fraudes assim tão “evidentes”?

Encerrei minha participação no debate dizendo: “Meu caro, só existe uma maneira de resolver isso: no voto. Respeitando nossa Constituição, que prevê que todo poder emana do povo, que o exerce diretamente, na forma da lei, ou por seus representantes, eleitos pelo voto popular. Convido-o, pois, a respeitar a soberania da vontade popular, dos cerca de 150 milhões de brasileiros aptos a votar”.


Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br

quinta-feira, 13 de março de 2014

As verdades e as mentiras que nos leva a pensar


Tem algumas coisas nas nossas vidas que não conseguimos explicar, como por exemplo, um estranho sentimento que passamos a ter quando nos envolvemos de corpo e alma por algo que começamos a gostar e esse gosto, uma vez correspondido, para a ser diário, contínuo e aos poucos começa a incorporar nossas próprias vidas.

Imagino que foi a partir dessa alusão que a tristeza foi inventada, pois alguém triste não tem poder nem de ação e muito menos de reação. A tristeza, por exemplo, de ver alguém ser preso ou assassinado injustamente, ou ser torturado pelos cães do sistema ou ainda de perder alguém ou algo que era de vital importância em suas vidas, deixa o ser humano frágil e uma presa fácil a ser controlada.

É bem provável que tenha sido por isso que inventaram a mentira de que política, religião e futebol não se discutem. Trata-se de três universos altamente subversivos em termos de envolvimento, mesmo que seja pela negação. Será que é a sedução implícita em cada um deles e que faz com que as pessoas simplesmente se apaixonem, que os tornou indecifrável para quem controla o poder? Por certo foi, é e ainda será.

Certa vez quando minha filha era bem pequena, numa caminhada pelo bairro onde morávamos e andávamos de mãos dadas, passeando com uma cachorra que tínhamos, algo inesperado ocorreu. De repente minha filha me surpreende ao perguntar: “Pai o que é política”? Logo eu que adora falar sobre aquilo, a meu ver com muita propriedade, fiquei por alguns segundos sem palavras. Simplesmente não sabia como lhe explicar que tudo que a vida nos oferece e tudo que fazemos vêm ou é da política.

Por alguns minutos estava eu ali diante dela tentando alinhavar um vocabulário que ela pudesse entender, além de desenhar um enredo que chegasse o mais próximo possível do que imaginava ser razoável, para responder a uma criança interessada de mais ou menos oito anos de idade o que é política. Um dos medos era o de não responder nem mentiras que a fizesse se afastar e nem determinadas verdades, que só o tempo se encarrega em fazer com que possamos entender na medida em quem escolhemos um caminho para seguir.

Fiquei alguns minutos dando exemplos, contando casos e procurando o melhor momento para fazer a pergunta conclusiva: entendeu? E quando tomei coragem de fazer, ela na pura ingenuidade, porém com muita convicção me respondeu: pai eu não entendi nada. E eu abraçando-a simplesmente lhe falei: “Fica tranquila. O tempo se encarregará em te fazer entender”. E continuamos a caminhar.

Essa é uma cena que não tem idade para ocorrer, pois se a maioria da população esteve sempre ausente dessa discussão, principalmente pelo fato de acreditar que se trata de algo ruim como a velha mídia passa, a partir dos infinitos editoriais e da teoria da conspiração é de se imaginar o porquê que a maioria das pessoas não nutre nenhum interesse nem pela política e tampouco por qualquer coisa que dela venha, como por exemplo, as Políticas Públicas. Isso ocorre justamente para que os mesmos vilões da história, governem e possam deixar seus sucessores, ocupando o espaço para que alguém que defenda os interesses da população excluída não tenha vez nem voto.

A velha mídia, principalmente a composta pelos veículos de comunicação daquelas seis famílias, que sozinhas dominam 70% de toda a imprensa, transformou-se na atualidade, sem sombra de dúvidas no quarto poder, em algo que quer determinar quem somos, o que fazemos e principalmente no que podemos pensar e isso não ocorreu por acaso. Há uma rede de interesses por trás que nutre diariamente com informações e conspirações, a começar por grande parte da academia, que para servir ao sistema e às seis famílias, mantém um sistema de ensino desatualizado e o pior, comprometido em combater tudo e todos que coloquem em risco a hegemonia daquelas famílias, da elite brasileira e principalmente do sistema. São fabricadores dos "cozinhas" da atualidade.

Por onde anda o bom senso? Por onde deve andar a verdadeira justiça? Será que ela já existiu em algum momento da história? O que é verdade e o que mentira para quem não participa do processo e age como máquina processadora de informações?

Nem que ficássemos dias, não conseguiríamos dar cabo de tantos assuntos, simplesmente pelo fato de que por trás de cada resposta existe um processo cultural e ideológico, que remete ao que vemos hoje, principalmente nas redes sociais, porém com um link no passado.

É importante entendermos que cada provocação tem uma fonte e cada conspiração também. Bom mesmo é quando sabemos de quem se trata e se é de uma fonte segura, mesmo sendo da oposição, pois assim podemos nos contrapor livremente e defender o que acreditamos ser  uma sociedade do futuro: uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.

Apenas algo me arrisco a afirmar: no passado tínhamos uma sociedade menos violenta do que a de hoje e porque não dizer mais interessada. Não que a luta do bem conta o mal seja algo novo, pois sempre existiu e não vai acabar tão cedo, pois se nutre nas entrelinhas da teoria da conspiração, mas a sociedade da informação ou como a direita que chamar da sociedade de resultados, não tem alma e muito menos tempo para resolver os conflitos que leve tempo para solucionar. Assim, a paz, que devia ser para todos e todas, se torna algo como uma moeda de troca, desde que o indivíduo esteja alinhado e disponível para o sistema.

Não estou pessimista e sem um tanto realista e é por isso que luto tanto para levar uma mensagem positiva por onde ando.

Qual a solução para esse impasse que vivemos? Amar mais, ser mais tolerante, aprender a ouvir mais do que falar, brigar apenas pelo que achamos justo e, sobretudo participar, pois a participação nos oferece as verdades e as mentiras, a partir do nosso ponto de vista e isso possibilita determinarmos, com mais segurança, quem elegemos como nosso representante, seja em que espaço político for.

Duas frases para reflexão:

“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”. (Karl Marx)

“Poder é toda chance, seja ela qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a relutância dos outros”. (Max Weber)

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com