Tem
algumas coisas nas nossas vidas que não conseguimos explicar, como por exemplo,
um estranho sentimento que passamos a ter quando nos envolvemos de corpo e alma
por algo que começamos a gostar e esse gosto, uma vez correspondido, para a ser
diário, contínuo e aos poucos começa a incorporar nossas próprias vidas.
Imagino
que foi a partir dessa alusão que a tristeza foi inventada, pois alguém triste
não tem poder nem de ação e muito menos de reação. A tristeza, por exemplo, de
ver alguém ser preso ou assassinado injustamente, ou ser torturado pelos cães
do sistema ou ainda de perder alguém ou algo que era de vital importância em
suas vidas, deixa o ser humano frágil e uma presa fácil a ser controlada.
É bem provável que tenha sido por isso que inventaram a mentira de que política, religião e futebol não
se discutem. Trata-se de três universos altamente subversivos em termos de
envolvimento, mesmo que seja pela negação. Será que é a sedução implícita em
cada um deles e que faz com que as pessoas simplesmente se apaixonem, que os
tornou indecifrável para quem controla o poder? Por certo foi, é e ainda será.
Certa
vez quando minha filha era bem pequena, numa caminhada pelo bairro onde morávamos
e andávamos de mãos dadas, passeando com uma cachorra que tínhamos, algo
inesperado ocorreu. De repente minha filha me surpreende ao perguntar: “Pai
o que é política”? Logo eu que adora falar sobre aquilo, a meu ver com muita
propriedade, fiquei por alguns segundos sem palavras. Simplesmente não sabia
como lhe explicar que tudo que a vida nos oferece e tudo que fazemos vêm ou é da
política.
Por
alguns minutos estava eu ali diante dela tentando alinhavar um vocabulário que
ela pudesse entender, além de desenhar um enredo que chegasse o mais próximo
possível do que imaginava ser razoável, para responder a uma criança interessada
de mais ou menos oito anos de idade o que é política. Um dos medos era o de não
responder nem mentiras que a fizesse se afastar e nem determinadas verdades,
que só o tempo se encarrega em fazer com que possamos entender na medida em
quem escolhemos um caminho para seguir.
Fiquei
alguns minutos dando exemplos, contando casos e procurando o melhor momento
para fazer a pergunta conclusiva: entendeu? E quando tomei coragem de fazer, ela
na pura ingenuidade, porém com muita convicção me respondeu: pai eu não entendi
nada. E eu abraçando-a simplesmente lhe falei: “Fica tranquila. O tempo se
encarregará em te fazer entender”. E continuamos a caminhar.
Essa
é uma cena que não tem idade para ocorrer, pois se a maioria da população
esteve sempre ausente dessa discussão, principalmente pelo fato de acreditar
que se trata de algo ruim como a velha mídia passa, a partir dos infinitos editoriais
e da teoria da conspiração é de se imaginar o porquê que a maioria das pessoas não
nutre nenhum interesse nem pela política e tampouco por qualquer coisa que dela
venha, como por exemplo, as Políticas Públicas. Isso ocorre justamente para que
os mesmos vilões da história, governem e possam deixar seus sucessores, ocupando o espaço
para que alguém que defenda os interesses da população excluída não tenha vez
nem voto.
A
velha mídia, principalmente a composta pelos veículos de comunicação daquelas
seis famílias, que sozinhas dominam 70% de toda a imprensa, transformou-se na
atualidade, sem sombra de dúvidas no quarto poder, em algo que quer determinar
quem somos, o que fazemos e principalmente no que podemos pensar e isso não
ocorreu por acaso. Há uma rede de interesses por trás que nutre diariamente com
informações e conspirações, a começar por grande parte da academia, que para
servir ao sistema e às seis famílias, mantém um sistema de ensino desatualizado
e o pior, comprometido em combater tudo e todos que coloquem em risco a
hegemonia daquelas famílias, da elite brasileira e principalmente do sistema. São fabricadores dos "cozinhas" da atualidade.
Por
onde anda o bom senso? Por onde deve andar a verdadeira justiça? Será que ela já existiu em algum momento da história? O que é verdade e o que mentira para quem
não participa do processo e age como máquina processadora de informações?
Nem
que ficássemos dias, não conseguiríamos dar cabo de tantos assuntos,
simplesmente pelo fato de que por trás de cada resposta existe um processo
cultural e ideológico, que remete ao que vemos hoje, principalmente nas redes
sociais, porém com um link no passado.
É importante entendermos que cada provocação tem uma fonte e cada conspiração também. Bom mesmo é
quando sabemos de quem se trata e se é de uma fonte segura, mesmo sendo da oposição, pois assim podemos nos contrapor livremente e defender o que
acreditamos ser uma sociedade do futuro: uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e
todas.
Apenas
algo me arrisco a afirmar: no passado tínhamos uma sociedade menos violenta do que
a de hoje e porque não dizer mais interessada. Não que a luta do bem conta o mal
seja algo novo, pois sempre existiu e não vai acabar tão cedo, pois se nutre
nas entrelinhas da teoria da conspiração, mas a sociedade da informação ou como
a direita que chamar da sociedade de resultados, não tem alma e muito menos tempo para resolver os
conflitos que leve tempo para solucionar. Assim, a paz, que devia ser para todos e
todas, se torna algo como uma moeda de troca, desde que o indivíduo esteja alinhado
e disponível para o sistema.
Não estou pessimista e sem um tanto realista e é por isso que luto tanto para levar uma mensagem positiva por onde ando.
Qual
a solução para esse impasse que vivemos? Amar mais, ser mais tolerante, aprender
a ouvir mais do que falar, brigar apenas pelo que achamos justo e, sobretudo
participar, pois a participação nos oferece as verdades e as mentiras, a partir
do nosso ponto de vista e isso possibilita determinarmos, com mais segurança,
quem elegemos como nosso representante, seja em que espaço político for.
Duas frases para reflexão:
“Não é a consciência do homem que lhe
determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a
consciência”. (Karl Marx)
“Poder é toda chance, seja ela
qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a
relutância dos outros”. (Max Weber)
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
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