Eu não tenho a menor preocupação com a tal Marcha que os extremistas
estão prestes a promover, uma verdadeira marcha-a-ré na História do país,
clamando pela “volta dos militares”. Mais uma vez se realizará a profecia de
Karl Marx, para quem toda tragédia se repete como farsa. Será um espetáculo, no
mínimo, cômico, tão ridículo como são os argumentos dos que defendem tal
ignomínia.
Mas o tal evento abre oportunidade para, pelo menos, ampliar-se o debate
na sociedade brasileira sobre o conceito de Política e, ao mesmo tempo, permite
medir a que nível conseguem descer os que não são capazes de derrotar no voto o
partido governista.
Travei recentemente um proveitoso debate particular com um conterrâneo, que dizia que os “marchistas” (não confundir com os “marxistas”, desafetos daqueles) não querem ditadura, nem o poder do Estado, nem mesmo um regime militar. Ele tentou explicar esse paradoxo, dizendo que “estamos suplicando aos militares que assumam o governo deste país justamente pelo que os políticos apresentaram nos últimos vinte anos”, ou seja, segundo ele, “enriquecimento ilícito pessoal com o nosso dinheiro”. E acrescentou que “todos os políticos são corruptos, nenhum presta”.
Travei recentemente um proveitoso debate particular com um conterrâneo, que dizia que os “marchistas” (não confundir com os “marxistas”, desafetos daqueles) não querem ditadura, nem o poder do Estado, nem mesmo um regime militar. Ele tentou explicar esse paradoxo, dizendo que “estamos suplicando aos militares que assumam o governo deste país justamente pelo que os políticos apresentaram nos últimos vinte anos”, ou seja, segundo ele, “enriquecimento ilícito pessoal com o nosso dinheiro”. E acrescentou que “todos os políticos são corruptos, nenhum presta”.
Então, é isso. Na base do discurso, o velho falso moralismo dos que se
dizem incomodados com a “corrupção” vendida diariamente pela mídia, embora,
desde o episódio do mensalão, em 2005 – em si mesmo, uma mal engendrada mentira
–, não se tenha tido nenhuma notícia séria sobre o tema no âmbito do governo
federal, alvo preferencial dos “marchistas”. E que nada dizem sobre sonegação –
que por certo é prática corrente de muitos desses que se articulam em favor do
golpe – e sequer enxergam corrupção em outras esferas de governo, como a
robusta propina comprovadamente paga pelas multinacionais Siemens e Alstom a
tucanos de alta plumagem que governam São Paulo.
Meu contendor dizia esperar que, com os militares no poder
(provisoriamente, se bem entendi), seriam presos todos os políticos corruptos.
Fui um tanto deselegante, ao fazer troça dessa ideia. Como é que os militares
definiriam quais políticos são corruptos e quais não são? Poderes divinais?
A partir da prisão em massa de todos os políticos – sim, porque todos
são corruptos e nenhum presta – os “fichas limpas” poderiam concorrer aos
cargos eletivos. Sugeri, então, que os novos “políticos” tivessem outra
designação, como “marcianos”, “venusianos” ou “veganos”. Uai! Mas, afinal de
contas, precisamos mesmo de uma intervenção militar para realizar algo que já
existe? – objetei.
Disse a ele: “não sei se o decepciono, mas, por esse justíssimo
critério, a atual presidenta, os ex-presidentes vivos - todos! Inclusive Collor
e Sarney - são fichas limpas e têm totais condições de concorrer ao pleito.
Como são fichas limpas (para meu desgosto, digo agora) José Serra, Alckmin,
Eduardo Campos, Marina Silva, Joaquim Barbosa... Salvo engano, só Aécio Neves
responde a processos por improbidade, mas parece que ainda não houve condenação
por órgão colegiado, de modo que até ele deve ser ficha limpa”.
Lembrei ao meu amigo que o país já possui instituições sólidas de
controle, fiscalização e punição a atos de corrupção em pleno funcionamento,
como CGU, TCU, MPF, PF, Câmara dos Deputados, Senado Federal, controladorias
internas nos estados e municípios, MP estaduais, polícias estaduais, TCE’s,
assembleias legislativas, câmaras municipais. A par desses, há as organizações
da própria sociedade, que deve se manter sempre ativa, participativa e
vigilante. Mas o meu amigo diz não acreditar no funcionamento das instituições
– e a culpa, obviamente, é do governo federal; e a saída, naturalmente, é um
golpe de estado.
Ele insistiu em dizer que “a roubalheira é cada vez maior”, regurgitando
essa comida estragada que servem diariamente os telejornais, rádios, jornais e
revistas.
Sobre a ideia de que os militares tomariam o poder apenas para convocar
eleições, escrevi: “mas ora veja! As eleições já estão convocadas! Serão daqui
a apenas sete meses! E a ela, rigorosamente, só poderão concorrer os políticos
fichas limpas. Por que incomodar desnecessariamente nossos bravos soldados?”.
Ele descrê da urna eletrônica, de modo que a intervenção serviria também
para voltarmos à votação manual – mais uma marcha-a-ré. Argumentei que o PT vem
amargando sucessivas derrotas eleitorais no estado de São Paulo, lá se vão
vinte anos do tucanato, e nem por isso sai por aí alegando fraude nas urnas
eletrônicas. Da mesma maneira, o PSDB já perdeu três eleições presidenciais
para o PT e, igualmente, jamais vi alguma liderança tucana queixar-se de tal
fraude. Nem o PSOL, sempre irrequieto, jamais acusou de fraudulentos os
resultados que lhe garantiram bancadas minúsculas nas recentes eleições.
Lembrei o exemplo de minha própria cidade, de minha própria candidatura
a prefeito, em 2004, quando fui derrotado. Outros concorrentes chegaram a me
procurar para adotarmos uma atitude em conjunto, porque, ao ver deles, era
“evidente” que teria havido fraude em favor do eleito. Não embarquei nessa e os
demovi da ideia.
Nas eleições seguintes, em 2008, o eleito teve dois terços dos votos
válidos e não faltou gente séria que, usando dados estatísticos e matemáticos,
alardeava que só poderia ter havido fraude. Nas últimas, em 2012, o prefeito,
então candidato à reeleição – portanto, no exercício do cargo, dotado de maior
poder e, presumivelmente, de mais recursos – foi derrotado pelo atual, que teve
os mesmos 2/3 de votos que seu concorrente havia obtido nas anteriores. O que
fizeram os críticos de antanho? Nada. Silenciaram, simplesmente.
Será que quem detinha a fórmula da fraude perdeu-a? Ou, subitamente,
deixou de querer vencer eleições? Será que as lideranças do PT, do PSDB, do
PSOL e dos demais partidos, que vencem aqui e perdem ali, vencem hoje e perdem
amanhã, são tolos a ponto de aceitar passivamente fraudes assim tão
“evidentes”?
Encerrei minha participação no debate dizendo: “Meu caro, só existe uma
maneira de resolver isso: no voto. Respeitando nossa Constituição, que prevê
que todo poder emana do povo, que o exerce diretamente, na forma da lei, ou por
seus representantes, eleitos pelo voto popular. Convido-o, pois, a respeitar a
soberania da vontade popular, dos cerca de 150 milhões de brasileiros aptos a
votar”.
Luís Antônio Albiero
Advogado na cidade de Americana/SP
laalbiero@yahoo.com.br
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