Tortura Nunca Mais!
Quero
iniciar essa conversa afirmando que um golpe não necessariamente é o que já
foi. Ou seja, militares nas ruas, direitos políticos cassados, beatas marchando
e entregando freiras e padres progressistas à tortura e à morte, milhares
assassinados e torturados, a imprensa golpista em êxtase e as empresas bancando
financeiramente as armas, a tortura e toda sacanagem. Um golpe pode ser uma
ação de traição, por exemplo, uma série de notícias para confundir a cabeça do
povo, um partido ou um político que se vende ao sistema econômico global, alguém
que vira um corrupto e tantas outras pequenas coisas que vão minando a
resistência democrática e que diariamente assistimos. Que tal pegarmos como por
exemplo a Ação Penal 470, que foi tratada até o momento como vingança e não
como justiça?
Tenho
sérias divergências com quem acredita que mais vale fazer pequenas ou grandes
sacanagens para manter ou chegar ao poder alguém que consideramos que vai fazer
um bom governo ou um bom mandato, do que deixar que alguém que já é sacana de papel
passado chegar lá. Por exemplo, a justificativa do chamado “caixa dois” para o
financiamento das campanhas milionárias. Que diferença tem? Por acaso os
recursos não sairão das mesmas fontes? Não afetarão as mesmas pessoas na
sociedade? Que diferença há se vai para o bolso de alguém ou se para os cofres
de uma empresa de marketing político?
Isso
não quer dizer que se as empresas quiserem financiar uma campanha não seja possível.
Não vejo qual é a lógica de uma empresa financiar um partido ou uma pessoa de
esquerda, mas até dá para entender. Porém criar esquemas durante uma gestão
justamente para isso, além de ser imoral é crime contra a humanidade.
Nos
cursos que tenho ministrado de Gestão Pública por várias partes do país, pela
Fundação Perseu Abramo, tenho provocado uma ampla discussão com os
participantes, a se iniciar pelo papel de cada um na sociedade e também qual é
o projeto de vida de cada participante. Creio que tudo começa por um projeto de
vida pessoal.
Fico
horas pensando o que faz uma pessoa pedir novamente os militares de volta, ou
ainda apoiar uma reedição da tal marcha das beatas e direitosas pela liberdade.
Que liberdade? Ou ainda pedir um Fora Dilma, mesmo sabendo que as ditaduras
militares assassinaram e torturaram milhares de pessoas na América Latina
somente por prazer e por poder. Das duas uma: ou se trata de uma pessoa
completamente alienada e analfabeta política ou se trata de uma enorme sacana,
inimiga de democracia e inimiga do povo brasileiro.
Já
afirmei anteriormente que um processo eleitoral, pelo seu teor democrático, tem
também como finalidade, fazer com que as pessoas se exponham livremente, mesmo
que sejam nazistas. É muito bom que todos os monstros saiam das tocas para
sabermos quem é quem. Acabo de excluir algumas delas do meu relacionamento político,
social e principalmente das minhas possíveis amizades. Até porque daqui para
frente estaremos em lados opostos e projetos completamente diferentes.
Depoimentos
de D. Paulo Evaristo Arns em seu livro, transcritos abaixo, expõem a crueldade
dos militares envolvidos no processo de tortura, assim como seus informantes,
que no seio da sociedade, vendiam a ideia de que estavam junto com a população
e com as lideranças políticas, chamados na época pelos militares de “terroristas”.
D. Paulo relata ainda como um militar norte-americano ensinava a torturar, em
detalhes, usando mendigos, as vezes até a morte.
A tortura foi indiscriminadamente aplicada no Brasil, indiferente a
idade, sexo ou situação moral, física e psicológica em que se encontravam as pessoas
suspeitas de atividades subversivas. Não se tratava apenas de produzir, no
corpo da vítima, uma dor que a fizesse entrar em conflito com o próprio
espírito e pronunciar o discurso que, ao favorecer o desempenho do sistema
repressivo, significasse sua sentença condenatória. Justificada pela urgência
de se obter informações, a tortura visava imprimir à vítima a destruição moral
pela ruptura dos limites emocionais que se assentavam sobre relações efetivas
de parentesco. Assim crianças foram sacrificadas diante dos pais, mulheres
grávidas tiveram seus filhos abortados, esposas sofreram para incriminar seus
maridos.
Sob o lema de ‘Segurança e
Desenvolvimento’, Médici dá início, em 30 de outubro de 1969, ao governo que
representará o período mais absoluto de repressão, violência e supressão das
liberdades civis de nossa história republicana. Desenvolve-se um aparato de
‘órgãos de segurança’, com características de poder autônomo, que levará aos
cárceres políticos milhares de cidadãos, transformando a tortura e o
assassinato numa rotina.
De abuso cometido pelos
interrogadores sobre o preso, a tortura no Brasil passou, com o Regime Militar,
à condição de “método científico”, incluído em currículos de formação de
militares. O ensino deste método de arrancar confissões e informações não era
meramente teórico. Era prático, com pessoas realmente torturadas, servindo de
cobaias neste macabro aprendizado. Sabe-se que um dos primeiros a introduzir
tal pragmatismo no Brasil, foi o policial norte-americano Dan Mitrione,
posteriormente transferido para Montevidéu, onde acabou sequestrado e morto.
Quando instrutor em Belo Horizonte, nos primeiros anos do Regime Militar, ele utilizou
mendigos recolhidos nas ruas para adestrar a política local. Seviciados em sala
de aula, aqueles pobres homens permitiam que os alunos aprendessem as várias
modalidades de criar no preso a suprema contradição entre o corpo e o espírito,
atingindo-lhes os pontos vulneráveis.
Que
não venham em nome da moralidade humana, onde toda promiscuidade serve
apenas para mantê-los no poder econômico global, rifar a democracia que já
custou tantas vidas. Afinal se o povo pobre da América Latina come melhor, mora
melhora e trabalha melhor, é graças aos governos populares que estão em vigência
e é justamente contra isso que a direita, a extrema direita e o PIG lutam. Ou
seja, o fim dessas mordomias para os pobres. Estão inclusive incomodados com o
pleno emprego, afirmando que num país como o Brasil, um terço dos empregados
tem que serem mandados embora, para novamente se criar o exército industrial de
reserva, que servia para intimidar quem estar trabalhando e pedia aumento.
Um
golpe na democracia só interessa aos inimigos do povo, aos amigos da pobreza,
como é o caso da metade da população mundial, que ainda passa fome, aos
inimigos da igualdade de condições e a quem interessa confundir a cabeça
daqueles que não participaram do momento de terror no Brasil e tampouco sabem
juntar o passado com o presente golpista.
Tenho
plena convicção que o povo brasileiro não se intimidará a voltar às ruas, se necessário, contra a corrupção por certo e com toda razão, porém também contra toda bandalheira,
como por exemplo, o Propinoduto Tucano dos trens e metrôs de São Paulo, algo que
já soma 12 bilhões em propinas, mas jamais em favor de um golpe e sim pela
manutenção a qualquer custo da Democracia Brasileira.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário sobre o Post