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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O papel das mentes centrais dos governos

Imagem: guiaw.com


A gestão pública no Brasil, ainda tratada por muitos como “terra de ninguém”, vem se reinventando nos últimos dez anos. Não por acaso, até a academia, descobriu essa nova área, com oferta de milhares de vagas, tanto para Cursos de Extensão, como de Pós-Graduação, dando um claro sinal que poderá migrar num futuro próximo para uma nova área técnica e profissional.

A mudança de concepção ideal, principalmente no trato com a coisa pública, com certeza não passará por nenhum “choque de gestão”, até porque choque não é uma coisa boa de ser lembrada e se precisasse de choque não seria de gestão e sim moral.

Em grosso modo, sem uma análise mais científica, podemos afirmar que existem dois mundos visíveis no universo da gestão pública, de um lado os sobreviventes dos choques de gestão, produzindo resultados sem nenhum critério e do outro os militantes de uma causa, construindo uma nova forma de governar, onde a valorização do funcionalismo, o zelo com a coisa pública e a capacitação tecnopolítica, compõem compromissos com a melhoria na qualidade dos serviços públicos e com a qualidade de vida da população e em especial com os menos favorecidos.

As possíveis mudanças, sejam técnicas ou políticas, passam necessariamente pelas mentes centrais do governo, àqueles que tomam decisões, normalmente trancados em seus gabinetes e é dessas mentes que sai o desenho institucional do governo e consequentemente o modelo de gestão.

Assim, se fazem necessários a desconstrução cultural, política e ideológica dessa forma de governar, onde os tais representantes da população não criam condições de participação, simplesmente pelo fato de acreditarem, que uma vez eleitos como legítimos representantes, não há necessidade de ouvir, apenas de usar, a seu bel prazer, o espaço emprestado pelo povo.

Segundo Yehezkel Dror, em A Capacidade para Governar, numa de suas abordagens sobre a condução do Estado, afirma que alguns governantes acreditam que: “...o simples fato de ser eleito qualifica uma pessoa a deter o poder na maioria dos cargos hierárquicos do Estado”.

Ainda segundo Dror, o aprofundamento da reflexão política nos cérebros centrais da governância (definida como sendo o desafio de governar a várias mãos), de acordo com os princípios propostos e adicionais, é uma necessidade que requer mudanças na estrutura, nos quadros e na cultura.

Investir nas mentes centrais do governo, além de ser uma necessidade, é antes de tudo uma obrigação do gestor principal.

Se governar é uma arte, governar sem o povo tornar-se uma arte sem vida.



Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Laboratório de Gestão e Políticas Públicas - Fundação Perseu Abramo

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